sexta-feira, 13 de maio de 2011

SILENCIO




21 horas. A moça sentada bem em minha frente no tróleibus, bolsa de verniz vermelha, sacolas de mercado, tentava não incomodar os demais passageiros. Demonstrava incomodo e um certo constrangimento por ocupar tanto espaço, visto o número de pessoas dentro do coletivo. A outra, sentada ao lado dela tentava a todo custo recusar a batata frita da barraquinha do terminal que a filha, que estava em pé entre mim e ela oferecia, mas a danada empurrava nela batata guela abaixo. Ela comia. Eu não comeria... A outra, em pé de frente a irmã da batata frita da barraquinha do terminal esforçava-se para não despencar no chão, mão no ferro de cima, na outra mão o palito. Apresentava dificuldades de coordenação motora (linguagem pedagógica... aff!!!) ao tentar espetar as batatinhas da irmã. Salivava, mirava, espetava e a batatinha caía, espetava de novo. A batatinha caía. A língua de fora como um lagarto, vazia. Queria batata. Não conseguia.
A moça da bolsa vermelha tentando segurar as sacolas de mercado. A luta pela batata, a luta contra a batata, o tróleibus a caminho de meu ponto: Parada Parque das Nações.
Eu, minha bolsa verde de lona, minha outra bolsa colorida que insisto em carregar com coisas que acho que nunca vou usar mas sempre uso e a sacolinha da perfumaria. Testemunhas do ringue da batata e do espetáculo equilibrista.
Os poemas de Glauco, Fernando, Lia, Antonio Mariano e Edson pisoteando os poucos neuronios, esmigalhando meus miolos.
Na memória o último olhar de menosprezo e desrespeito que recebi do dia. Espero demais das pessoas. Minha pureza insiste, persiste, num mundo que não mais sabe o que é isso, num mundo congestionado de inveja melindre e mediocridade.
Volto de novo sozinha para casa, consolidando uma vida que é minha e de mais ninguém.
Graças a Deus, ou ao Diabo, mas graças... Graças...
Graças!!!


Pam Orbacam

2 comentários:

Edson Bueno de Camargo disse...

às vezes o que queremos com todo afinco é chegar em casa.

Edson Bueno de Camargo disse...

nossa boa e velha casca de ostra. rsrsrs