segunda-feira, 31 de maio de 2010




"PARA BEBER POESIA É NECESSÁRIO ESTAR COM A ALMA VAZIA।"

Pam



"PARA BEBER POESIA É NECESSÁRIO ESTAR COM A ALMA VAZIA।"

Pam




Minha cidade

A minha cidade tem cores, flores e odores
Anjos que beijam flores
Odores dos mais diversos
Cores que criam poemas
E homens que fazem histórias.
A minha cidade tem sons, silêncios e luzes
Palavras faladas, que ora gritam, outrora sussurram
E palavras escritas, que ora assustam, outrora emocionam.
Mas minha cidade também tem pés.
Pés que acariciam e marcam o chão;
Pés cansados de tanto trabalho
E pés pequeninos, que carimbam cartões de boas-vindas.
Além disso, a minha cidade tem sabores.
Sabores que salivam a boca
E até sabores de fazer careta.
No mais, a minha cidade tem muitos nomes.
Nomes oriundos de vários lugares:
João, José, Severina,
Maria, Ana, Antônio;
E também tem nome de santo:
Um santo chamado André.


Pam Orbacam




Minha cidade

A minha cidade tem cores, flores e odores
Anjos que beijam flores
Odores dos mais diversos
Cores que criam poemas
E homens que fazem histórias.
A minha cidade tem sons, silêncios e luzes
Palavras faladas, que ora gritam, outrora sussurram
E palavras escritas, que ora assustam, outrora emocionam.
Mas minha cidade também tem pés.
Pés que acariciam e marcam o chão;
Pés cansados de tanto trabalho
E pés pequeninos, que carimbam cartões de boas-vindas.
Além disso, a minha cidade tem sabores.
Sabores que salivam a boca
E até sabores de fazer careta.
No mais, a minha cidade tem muitos nomes.
Nomes oriundos de vários lugares:
João, José, Severina,
Maria, Ana, Antônio;
E também tem nome de santo:
Um santo chamado André.


Pam Orbacam





HERANÇA

- Meu querido filho venha aqui, aceite este mimo como sinal da minha eterna amizade e admiração. Um nada, diante do meu profundo agradecimento e dos meus sinceros votos de duradouro sucesso e renovada prosperidade. Que ele lhe seja um amuleto, trazendo-lhe muita sorte nos negócios e, que a passagem das horas e as memórias, lhe sejam sempre leves –
Foi diante desse discurso agradecido que aquele jovem de pouco mais de dezessete anos recebeu um relógio de pulso que, ao primeiro olhar e livre das influências de um discurso inflamado pela emoção, já demonstrava ter algo, misteriosamente especial.
Tão logo ele se viu sozinho passou, finalmente, a observar o lindo prêmio recebido. Realmente era uma máquina de se admirar. Caixa dourada, provavelmente de ouro. Não se sentia com coragem para acreditar que realmente pudesse ser de ouro. Sentia-se gaiato, como se pudesse, a qualquer instante, ser descoberto e obrigado a sentar novamente, no banco dos réus, depois de encerrado o julgamento. Teria que aprender a conviver com certa culpa por ter recebido algo tão valioso enquanto não conseguisse reconhecer claramente, qual havia sido a sua real importância no desenvolvimento dos fatos. Naquele momento, o que importava é que a pulseira de couro lhe remetia a uma vida de aventuras. O marrom avermelhado do que já fôra um crocodilo, fazia brilhar em sua memória, as imagens da África que vira há pouco, em alguns postais e fotos na casa de uma amiga. Imaginava a magnitude do esforço envolvido, no longo percurso percorrido por aquele pequeno pedaço de couro, do distante Egito dos Faraós até as suas mãos... Por quantas mãos passara aquela tira de pele animal¿ De alguma forma, a partir de agora, ele se sentia responsável também, pela vida daquele crocodilo. E de muitos outros. No fundo metálico ofuscante, um pequeno número gravado em uma bela letra, ligeiramente inclinada, atribuía-lhe originalidade e elegância. No mostrador, circundado por doze pequenas barras em estilo decô, reluziam uma coroa e três elegantes ponteiros, inequivocamente, de ouro. Mais do que antes, sentiu apenas agora a responsabilidade que lhe haviam atribuído, ao oferecer-lhe essa jóia.
Usou-o com fé por mais alguns anos. Usou-o com orgulho e prazer até que a sorte e a fortuna alcançadas fossem banalizadas pelas bênçãos cotidianas. Foi então que, casualmente, em uma morna noite de verão, colocou seu precioso companheiro dentro de uma gaveta na cômoda do quarto. E esqueceu-se dele.
Desde então, sua vida, lentamente estagnou-se e o brilho da caixa dourada que iluminou seu caminho durante tantos anos, apagou-se rapidamente, dentro de uma gaveta escura.
Certo dia, muitos anos depois, já casado e com um casal de filhos, divagava sobre o que o futuro lhes havia reservado. Ao ver seu filho ele reviu, como um raio, seus momentos de fartura e sucesso.


Instantaneamente, perguntou-se:
- Onde estará meu amuleto¿
- Meu relógio mágico¿
- O que fiz com ele¿
- Meu esquecido amuleto...
Chave da sorte,
- Esquecido... Na gaveta,
quantos anos...
- Meu querido filho venha aqui, aceite este mimo como sinal da minha eterna amizade e admiração. Um nada, diante do meu profundo agradecimento e dos meus sinceros votos de duradouro sucesso e renovada prosperidade. Que ele lhe seja um amuleto, trazendo-lhe muita sorte nos negócios e, que a passagem das horas e as memórias, lhe sejam sempre leves –
Foi diante desse discurso agradecido que aquele jovem de pouco mais de dezessete anos recebeu um relógio que, ao primeiro olhar e livre das influências de um discurso inflamado pela emoção, já demonstrava ter algo, misteriosamente especial.
Tão logo ele se viu sozinho passou, finalmente, a observar o lindo prêmio recebido. Realmente era uma máquina de se admirar. Caixa dourada, provavelmente de ouro. Não se sentia com coragem para acreditar que realmente pudesse ser de ouro. Sentia-se gaiato, como se pudesse, a qualquer instante, ser descoberto e obrigado a sentar novamente, no banco dos réus, depois de encerrado o julgamento. Teria que aprender a conviver com certa culpa por ter recebido algo tão valioso enquanto não conseguisse reconhecer claramente, qual havia sido a sua real importância no desenvolvimento dos fatos. Naquele momento, o que importava é que a pulseira de couro lhe remetia a uma vida de aventuras. O marrom avermelhado do que já fôra um crocodilo, fazia brilhar em sua memória, as imagens da África que vira há pouco, em alguns postais e fotos na casa de uma amiga. Imaginava a magnitude do esforço envolvido, no longo percurso percorrido por aquele pequeno pedaço de couro, do distante Egito dos Faraós até as suas mãos... Por quantas mãos passara aquela tira de pele animal¿ De alguma forma, a partir de agora, ele se sentia responsável também, pela vida daquele crocodilo. E de muitos outros. No fundo metálico ofuscante, um pequeno número gravado em uma bela letra, ligeiramente inclinada, atribuía-lhe originalidade e elegância. No mostrador, circundado por doze pequenas barras em estilo decô, reluzia uma coroa, inequivocamente, de ouro, assim como os três elegantes ponteiros. Mais do que antes, sentiu apenas agora a responsabilidade que lhe haviam atribuído, ao oferecer-lhe essa jóia.

Usou-o com fé por mais alguns anos. Usou-o com orgulho e prazer até que a sorte e a fortuna alcançadas fossem banalizadas pelas bênçãos cotidianas. Foi então que, casualmente, em uma morna noite de verão, colocou seu precioso companheiro dentro de uma gaveta na cômoda do quarto. E esqueceu-se dele.
Desde então, sua vida, lentamente estagnou-se e o brilho da caixa dourada que iluminou seu caminho durante tantos anos, apagou-se rapidamente, dentro de uma gaveta escura.
Certo dia, muitos anos depois, já casado e com um casal de filhos, divagava sobre o que o futuro lhes havia reservado. Ao ver seu filho ele reviu, como um raio, seus momentos de fartura e sucesso.
Instantaneamente, perguntou-se:
- Onde estará meu amuleto¿
- Meu relógio mágico¿
- O que fiz com ele¿
- Meu esquecido amuleto...
Chave da sorte,
- Esquecido... Na gaveta,
quantos anos...
- Meu querido filho venha aqui, aceite este mimo como sinal da minha eterna amizade e admiração. Um nada, diante do meu profundo agradecimento e dos meus sinceros votos de duradouro sucesso e renovada prosperidade. Que ele lhe seja um amuleto, trazendo-lhe muita sorte nos negócios e que a passagem das horas e as memórias, lhe sejam sempre leves –

Não tenho filhos.

Coube a mim... usar o relógio.


Texto: Augusto Citrangulo





HERANÇA

- Meu querido filho venha aqui, aceite este mimo como sinal da minha eterna amizade e admiração. Um nada, diante do meu profundo agradecimento e dos meus sinceros votos de duradouro sucesso e renovada prosperidade. Que ele lhe seja um amuleto, trazendo-lhe muita sorte nos negócios e, que a passagem das horas e as memórias, lhe sejam sempre leves –
Foi diante desse discurso agradecido que aquele jovem de pouco mais de dezessete anos recebeu um relógio de pulso que, ao primeiro olhar e livre das influências de um discurso inflamado pela emoção, já demonstrava ter algo, misteriosamente especial.
Tão logo ele se viu sozinho passou, finalmente, a observar o lindo prêmio recebido. Realmente era uma máquina de se admirar. Caixa dourada, provavelmente de ouro. Não se sentia com coragem para acreditar que realmente pudesse ser de ouro. Sentia-se gaiato, como se pudesse, a qualquer instante, ser descoberto e obrigado a sentar novamente, no banco dos réus, depois de encerrado o julgamento. Teria que aprender a conviver com certa culpa por ter recebido algo tão valioso enquanto não conseguisse reconhecer claramente, qual havia sido a sua real importância no desenvolvimento dos fatos. Naquele momento, o que importava é que a pulseira de couro lhe remetia a uma vida de aventuras. O marrom avermelhado do que já fôra um crocodilo, fazia brilhar em sua memória, as imagens da África que vira há pouco, em alguns postais e fotos na casa de uma amiga. Imaginava a magnitude do esforço envolvido, no longo percurso percorrido por aquele pequeno pedaço de couro, do distante Egito dos Faraós até as suas mãos... Por quantas mãos passara aquela tira de pele animal¿ De alguma forma, a partir de agora, ele se sentia responsável também, pela vida daquele crocodilo. E de muitos outros. No fundo metálico ofuscante, um pequeno número gravado em uma bela letra, ligeiramente inclinada, atribuía-lhe originalidade e elegância. No mostrador, circundado por doze pequenas barras em estilo decô, reluziam uma coroa e três elegantes ponteiros, inequivocamente, de ouro. Mais do que antes, sentiu apenas agora a responsabilidade que lhe haviam atribuído, ao oferecer-lhe essa jóia.
Usou-o com fé por mais alguns anos. Usou-o com orgulho e prazer até que a sorte e a fortuna alcançadas fossem banalizadas pelas bênçãos cotidianas. Foi então que, casualmente, em uma morna noite de verão, colocou seu precioso companheiro dentro de uma gaveta na cômoda do quarto. E esqueceu-se dele.
Desde então, sua vida, lentamente estagnou-se e o brilho da caixa dourada que iluminou seu caminho durante tantos anos, apagou-se rapidamente, dentro de uma gaveta escura.
Certo dia, muitos anos depois, já casado e com um casal de filhos, divagava sobre o que o futuro lhes havia reservado. Ao ver seu filho ele reviu, como um raio, seus momentos de fartura e sucesso.


Instantaneamente, perguntou-se:
- Onde estará meu amuleto¿
- Meu relógio mágico¿
- O que fiz com ele¿
- Meu esquecido amuleto...
Chave da sorte,
- Esquecido... Na gaveta,
quantos anos...
- Meu querido filho venha aqui, aceite este mimo como sinal da minha eterna amizade e admiração. Um nada, diante do meu profundo agradecimento e dos meus sinceros votos de duradouro sucesso e renovada prosperidade. Que ele lhe seja um amuleto, trazendo-lhe muita sorte nos negócios e, que a passagem das horas e as memórias, lhe sejam sempre leves –
Foi diante desse discurso agradecido que aquele jovem de pouco mais de dezessete anos recebeu um relógio que, ao primeiro olhar e livre das influências de um discurso inflamado pela emoção, já demonstrava ter algo, misteriosamente especial.
Tão logo ele se viu sozinho passou, finalmente, a observar o lindo prêmio recebido. Realmente era uma máquina de se admirar. Caixa dourada, provavelmente de ouro. Não se sentia com coragem para acreditar que realmente pudesse ser de ouro. Sentia-se gaiato, como se pudesse, a qualquer instante, ser descoberto e obrigado a sentar novamente, no banco dos réus, depois de encerrado o julgamento. Teria que aprender a conviver com certa culpa por ter recebido algo tão valioso enquanto não conseguisse reconhecer claramente, qual havia sido a sua real importância no desenvolvimento dos fatos. Naquele momento, o que importava é que a pulseira de couro lhe remetia a uma vida de aventuras. O marrom avermelhado do que já fôra um crocodilo, fazia brilhar em sua memória, as imagens da África que vira há pouco, em alguns postais e fotos na casa de uma amiga. Imaginava a magnitude do esforço envolvido, no longo percurso percorrido por aquele pequeno pedaço de couro, do distante Egito dos Faraós até as suas mãos... Por quantas mãos passara aquela tira de pele animal¿ De alguma forma, a partir de agora, ele se sentia responsável também, pela vida daquele crocodilo. E de muitos outros. No fundo metálico ofuscante, um pequeno número gravado em uma bela letra, ligeiramente inclinada, atribuía-lhe originalidade e elegância. No mostrador, circundado por doze pequenas barras em estilo decô, reluzia uma coroa, inequivocamente, de ouro, assim como os três elegantes ponteiros. Mais do que antes, sentiu apenas agora a responsabilidade que lhe haviam atribuído, ao oferecer-lhe essa jóia.

Usou-o com fé por mais alguns anos. Usou-o com orgulho e prazer até que a sorte e a fortuna alcançadas fossem banalizadas pelas bênçãos cotidianas. Foi então que, casualmente, em uma morna noite de verão, colocou seu precioso companheiro dentro de uma gaveta na cômoda do quarto. E esqueceu-se dele.
Desde então, sua vida, lentamente estagnou-se e o brilho da caixa dourada que iluminou seu caminho durante tantos anos, apagou-se rapidamente, dentro de uma gaveta escura.
Certo dia, muitos anos depois, já casado e com um casal de filhos, divagava sobre o que o futuro lhes havia reservado. Ao ver seu filho ele reviu, como um raio, seus momentos de fartura e sucesso.
Instantaneamente, perguntou-se:
- Onde estará meu amuleto¿
- Meu relógio mágico¿
- O que fiz com ele¿
- Meu esquecido amuleto...
Chave da sorte,
- Esquecido... Na gaveta,
quantos anos...
- Meu querido filho venha aqui, aceite este mimo como sinal da minha eterna amizade e admiração. Um nada, diante do meu profundo agradecimento e dos meus sinceros votos de duradouro sucesso e renovada prosperidade. Que ele lhe seja um amuleto, trazendo-lhe muita sorte nos negócios e que a passagem das horas e as memórias, lhe sejam sempre leves –

Não tenho filhos.

Coube a mim... usar o relógio.


Texto: Augusto Citrangulo

terça-feira, 25 de maio de 2010

CIA. KOMOS DE TEATRO




convida


5º SARAU DOS 15 ANOS – 5 de 15


Dia 28 de maio (sexta-feira)


À PARTIR DAS 20H37


A Cia. Komos de Teatro, continua as comemorações do seu aniversário de 15 anos com o 5º SARAU, que será realizado no dia 28 de maio.
E, durante o SARAU, cortaremos um bolinho para simbolizar os 15 anos de atividades ininterruptas da Cia. Komos, na cidade de Santo André.

O tema do 5º SARAU será


“BANDAS E GRUPOS MUSICAIS DE HUMOR”


(Língua de Trapo, Premeditando o Breque, Joelho de Porco, Moral e Bons Costumes, Mamonas Assassinas, Rogério Skylab, entre outros)
Leve seu CD ou Vinil (se tiver)
No Espaço da Cia Komos, venderemos cerveja e refri.
O bolo é por nossa conta.



Grande abraço,



Joca, Mauro e Ana Paula
CIA. KOMOS DE TEATRO

Rua João Fernandes, 18, Vila Alpina, Santo André
(subindo a rua das Monções, atravessar o farol das figueiras, continuar subindo e virar a primeira à direita – estamos na esquina)
Para quem vier de São Paulo:

Vindo da Anchieta: Entrar no Extra Anchieta e continuar sentido Sto André. Virar à direita no SESC, subir a rua, virar à esquerda e continuar uns 500 metros . Quando chegar em uma rotatória (tem uma igreja do lado esquerdo), virar à direita, depois de uns 50 metros , outra rotatória, virar à esquerda. Chegou na rua das Monções. Virar na quinta rua à esquerda. Chegou! Estamos na esquina.
CIA. KOMOS DE TEATRO




convida


5º SARAU DOS 15 ANOS – 5 de 15


Dia 28 de maio (sexta-feira)


À PARTIR DAS 20H37


A Cia. Komos de Teatro, continua as comemorações do seu aniversário de 15 anos com o 5º SARAU, que será realizado no dia 28 de maio.
E, durante o SARAU, cortaremos um bolinho para simbolizar os 15 anos de atividades ininterruptas da Cia. Komos, na cidade de Santo André.

O tema do 5º SARAU será


“BANDAS E GRUPOS MUSICAIS DE HUMOR”


(Língua de Trapo, Premeditando o Breque, Joelho de Porco, Moral e Bons Costumes, Mamonas Assassinas, Rogério Skylab, entre outros)
Leve seu CD ou Vinil (se tiver)
No Espaço da Cia Komos, venderemos cerveja e refri.
O bolo é por nossa conta.



Grande abraço,



Joca, Mauro e Ana Paula
CIA. KOMOS DE TEATRO

Rua João Fernandes, 18, Vila Alpina, Santo André
(subindo a rua das Monções, atravessar o farol das figueiras, continuar subindo e virar a primeira à direita – estamos na esquina)
Para quem vier de São Paulo:

Vindo da Anchieta: Entrar no Extra Anchieta e continuar sentido Sto André. Virar à direita no SESC, subir a rua, virar à esquerda e continuar uns 500 metros . Quando chegar em uma rotatória (tem uma igreja do lado esquerdo), virar à direita, depois de uns 50 metros , outra rotatória, virar à esquerda. Chegou na rua das Monções. Virar na quinta rua à esquerda. Chegou! Estamos na esquina.
A chance de sua obra chegar às principais livrarias do país




O Prêmio SESC de Literatura está com as inscrições abertas para a sua 8ª edição. O edital está disponível online e nas unidades do SESC em todo o Brasil. As inscrições vão até 30 de setembro de 2010.

O concurso revela desde 2003 escritores inéditos cujas obras possuam qualidade literária para edição e circulação nacional. As inscrições para o Prêmio SESC de Literatura são gratuitas e aceitas em todo o Brasil, basta procurar a unidade mais próxima do SESC. São duas categorias: romance e contos. Cada concorrente pode participar com uma obra e os livros vencedores são publicados pela editora Record e distribuídos para toda a rede de bibliotecas e salas de leitura do SESC e SENAC em todo o país.

Na edição de 2009, dentre os 43 romances e 57 contos pré-selecionados, os escritores de Minas Gerais e do Rio de Janeiro foram os vencedores. Prosa de papagaio, da mineira Gabriela Guimarães Grazzinelli, foi o trabalho vencedor na categoria romance, e Cavala, de Sergio Tavares, foi escolhido como melhor coletânea de contos.
A chance de sua obra chegar às principais livrarias do país




O Prêmio SESC de Literatura está com as inscrições abertas para a sua 8ª edição. O edital está disponível online e nas unidades do SESC em todo o Brasil. As inscrições vão até 30 de setembro de 2010.

O concurso revela desde 2003 escritores inéditos cujas obras possuam qualidade literária para edição e circulação nacional. As inscrições para o Prêmio SESC de Literatura são gratuitas e aceitas em todo o Brasil, basta procurar a unidade mais próxima do SESC. São duas categorias: romance e contos. Cada concorrente pode participar com uma obra e os livros vencedores são publicados pela editora Record e distribuídos para toda a rede de bibliotecas e salas de leitura do SESC e SENAC em todo o país.

Na edição de 2009, dentre os 43 romances e 57 contos pré-selecionados, os escritores de Minas Gerais e do Rio de Janeiro foram os vencedores. Prosa de papagaio, da mineira Gabriela Guimarães Grazzinelli, foi o trabalho vencedor na categoria romance, e Cavala, de Sergio Tavares, foi escolhido como melhor coletânea de contos.

segunda-feira, 24 de maio de 2010




COISAS DO COTIDIANO



Não sinto gosto.
Não sinto cheiro.
Tenho três calos na palma da mão direita que teimam em engrossar a cada dia que passa.
Minhas unhas estão tortas. Não tenho vontade de arrumá-las. Elas crescem, assim como meus três calos da palma da mão direita.
Eu não quero mais que elas cresçam. Nem meus calos. Mas eles crescem.
Finjo não ver, mas quebro as unhas tentando arrancar meus calos.
Arranco os calos e quebro as unhas, mas ambos voltam a crescer, então é necessária uma rotina meticulosamente organizada para que os calos não cresçam em demasia a ponto de quebrar minhas unhas sem que eu consiga arrancá-los.
O vício maldito de passar a língua nos cantos da boca é porque me apavora a idéia de acumular secreções embranquecidas viscosas.
Tento fazer isso discretamente, mas o vício é tão intenso que SEI que acabo por repetir o movimento a cada trinta segundos.
Não bebo água. Deveria, mas não bebo. Continuo urinando. Será que vou secar?
O lado interno da minha bochecha esquerda é áspero. Eu como minha bochecha esquerda, mas ela não tem gosto.
Meus dentes estão esfarelando. Deve ser por isso que não sinto gosto. Acabo por engolir a comida sem mastigá-la.
A máscara de pepino serve de escudo contra as possíveis agressões externas.
As pessoas são más.
Cruzo as pernas. O sangue não circula. A perna formiga e as veias azuis estão cada vez mais visíveis.
Fisicamente dói, mas não importa.
Me incomoda a possibilidade de super exposição genital, mesmo que revestida por algodão.
Meus contatos são virtuais, o que se sugere uma situação extremamente providencial diante de minha falta de tolerância com o ser humano. Quando encho, desligo.
Eu não desligo. A intensidade das minhas sensações e sentimentos circulam à direção de piloto automático.
Minha aversão ao ser humano é consequência da decepção constante e inevitável de quase quarenta anos de contato.
Eu espero que as pessoas sempre tentem dar o melhor de si em tudo o que fazem, assim como eu, mas elas sempre falham.
O ser humano veio com defeito de fabricação.
As pessoas dizem que eu sou insuportável, que eu incomodo. Ótimo.
Fiquem longe de mim.
Fico com meus calos e meus vícios. Eles são teimosos como eu, por isso nossa convivência basta.
Sou feliz.

PAM ORBACAM



COISAS DO COTIDIANO



Não sinto gosto.
Não sinto cheiro.
Tenho três calos na palma da mão direita que teimam em engrossar a cada dia que passa.
Minhas unhas estão tortas. Não tenho vontade de arrumá-las. Elas crescem, assim como meus três calos da palma da mão direita.
Eu não quero mais que elas cresçam. Nem meus calos. Mas eles crescem.
Finjo não ver, mas quebro as unhas tentando arrancar meus calos.
Arranco os calos e quebro as unhas, mas ambos voltam a crescer, então é necessária uma rotina meticulosamente organizada para que os calos não cresçam em demasia a ponto de quebrar minhas unhas sem que eu consiga arrancá-los.
O vício maldito de passar a língua nos cantos da boca é porque me apavora a idéia de acumular secreções embranquecidas viscosas.
Tento fazer isso discretamente, mas o vício é tão intenso que SEI que acabo por repetir o movimento a cada trinta segundos.
Não bebo água. Deveria, mas não bebo. Continuo urinando. Será que vou secar?
O lado interno da minha bochecha esquerda é áspero. Eu como minha bochecha esquerda, mas ela não tem gosto.
Meus dentes estão esfarelando. Deve ser por isso que não sinto gosto. Acabo por engolir a comida sem mastigá-la.
A máscara de pepino serve de escudo contra as possíveis agressões externas.
As pessoas são más.
Cruzo as pernas. O sangue não circula. A perna formiga e as veias azuis estão cada vez mais visíveis.
Fisicamente dói, mas não importa.
Me incomoda a possibilidade de super exposição genital, mesmo que revestida por algodão.
Meus contatos são virtuais, o que se sugere uma situação extremamente providencial diante de minha falta de tolerância com o ser humano. Quando encho, desligo.
Eu não desligo. A intensidade das minhas sensações e sentimentos circulam à direção de piloto automático.
Minha aversão ao ser humano é consequência da decepção constante e inevitável de quase quarenta anos de contato.
Eu espero que as pessoas sempre tentem dar o melhor de si em tudo o que fazem, assim como eu, mas elas sempre falham.
O ser humano veio com defeito de fabricação.
As pessoas dizem que eu sou insuportável, que eu incomodo. Ótimo.
Fiquem longe de mim.
Fico com meus calos e meus vícios. Eles são teimosos como eu, por isso nossa convivência basta.
Sou feliz.

PAM ORBACAM

sexta-feira, 21 de maio de 2010


PRECISÃO



É preciso girar a chave
Abrir ou trancar.
É preciso calçar os sapatos
Aquecer ou andar.
É preciso tirar as luvas
E cortar as unhas.
É preciso tirar os óculos
E dilatar as pupilas.
É preciso tirar a blusa
E tocar os próprios seios.
É preciso lamber as feridas
Até que elas sequem.
É preciso... É preciso...

É preciso observar
Minuciosamente o outro.
É preciso apreciar.
É preciso por as mãos frias
Mais além do que entre as coxas...
É preciso sentir a secreção.
É preciso sentir o avesso,
É preciso dar as costas,
É preciso olhar de frente.

É preciso tomar chuva.
É preciso tomar vinho.
É preciso ouvir o silêncio.
E para isso fazer silêncio.
É preciso olhar para os lados.
É preciso abrir a boca
Para poder sentir o gosto.
É preciso mastigar
Antes de engolir.
É preciso... É preciso...

É preciso relembrar.
É preciso avaliar.
É preciso lagrimar.
É preciso passar o tempo.
Antes que o tempo passe.
É preciso, passado o tempo,
Ruminado o engolido,
É preciso vomitar.
É preciso absorver.
É preciso, a dor sentida,
Sentir alguma coisa.
É preciso a precisão.
É precisa a precisão.


Pam Orbacam

PRECISÃO



É preciso girar a chave
Abrir ou trancar.
É preciso calçar os sapatos
Aquecer ou andar.
É preciso tirar as luvas
E cortar as unhas.
É preciso tirar os óculos
E dilatar as pupilas.
É preciso tirar a blusa
E tocar os próprios seios.
É preciso lamber as feridas
Até que elas sequem.
É preciso... É preciso...

É preciso observar
Minuciosamente o outro.
É preciso apreciar.
É preciso por as mãos frias
Mais além do que entre as coxas...
É preciso sentir a secreção.
É preciso sentir o avesso,
É preciso dar as costas,
É preciso olhar de frente.

É preciso tomar chuva.
É preciso tomar vinho.
É preciso ouvir o silêncio.
E para isso fazer silêncio.
É preciso olhar para os lados.
É preciso abrir a boca
Para poder sentir o gosto.
É preciso mastigar
Antes de engolir.
É preciso... É preciso...

É preciso relembrar.
É preciso avaliar.
É preciso lagrimar.
É preciso passar o tempo.
Antes que o tempo passe.
É preciso, passado o tempo,
Ruminado o engolido,
É preciso vomitar.
É preciso absorver.
É preciso, a dor sentida,
Sentir alguma coisa.
É preciso a precisão.
É precisa a precisão.


Pam Orbacam

DIÁLOGO



Hoje completa um mês. Há trinta dias venho, cotidianamente, ao mesmo local, na tentativa de reencontrá-la. Cheguei a vir até quatro vezes em um mesmo dia, na esperança de revê-la. É estranho, ainda acho difícil entender tudo o que houve. Na verdade, sinto-me estranho, confuso, ao relembrar como tudo aconteceu. Ano após ano, tudo parecia seguir a um roteiro predeterminado pela inteligência dos semáforos. Em meu caminho diário, acabava por parar, inevitavelmente, nesse farol e, sistematicamente, era abordado por pedintes e miseráveis que, como camaleões temáticos, mimetizavam-se em vendedores de guardachuva nos dias encobertos e, em vendedores de bandeiras, nas vésperas das finais de campeonatos. Entre essas figuras, uma me chamava a atencão de modo muito particular. Uma senhora de idade avançada, bem desgastada pela vida, despertava em mim, uma repugnância imediata. Não saberia dizer quanto tempo “convivi” com essa senhora, sempre no mesmo cruzamento, a poucos segundos de distância. Sua aparência, suas roupas esfarrapadas, sua sujeira, causavam em mim um mal estar de proporções inquietantes.Todas as vezes em que ali estive, ela se aproximava da janela do carro percorrendo o mesmo caminho, iniciando um ritual bastante conhecido. Eu evitava o seu olhar e fingia não notar a sua presença, antes que ela me dissesse ou oferecesse algo. Alguns dias, sofria por antecipação ao lembrar que estaria tão perto dela, mesmo que por poucos segundos. Cheguei a tentar outros caminhos, mais longos, mas que me livrassem daquela pessoa intragável. Agora ao relembrar esses incômodos encontros cotidianos é que percebo que, nas minhas tentativas de ignorá-la, nunca cogitei a idéia de que ela pudesse ter algo a me oferecer. Mantê-la à distância parecia-me a solução possível, ignorá-la, a ideal, ate' esse encontro especial que ficou marcado no calendário. Nesse dia, como de costume, já preparava meu espírito para vê-la, quando imediatamente no momento em que parei no farol, meu celular tocou desviando minha atenção. Quando levantei novamente meu olhar, olhei diretamente nos olhos desta velha desconhecida e assustei-me, de tal sorte, que gritei com todo o meu fôlego, como se tivesse recebido uma forte descarga elétrica. Surpreso e envergonhado pela minha reação tão imprópria agi, de maneira ainda mais inesperada e contraditória, ao perceber que meu alvo de observação também havia se assustado com meu grito. Abri então, não o vidro do carro, mas a porta do passageiro e, gentilmente, sinalizei para que ela entrasse, pois o semáforo já deveria estar prestes a abrir. Talvez, pelo inusitado da situação, ela obedeceu como um autômato responderia ao apelo de seu criador e entrou no carro ocupando o assento do passageiro no mesmo instante em que soou a primeira buzina que se antecipava à tão esperada luz verde. Mais uma vez, percebi que apenas reagia ao acelerar o carro, sem saber aonde ia, para onde levava aquela pessoa até então uma estranha. Tinha apenas uma certeza, a aversão que senti desde o primeiro instante em que a vi, transformava-se, inexplicavelmente, em uma fascinante cumplicidade, como se embora desconhecida, ela representasse algo de estranhamente familiar que, há muito, desejava reencontrar. Seu olhar transbordava uma confiança que me parecia imprópria para alguém que vivia indecentemente na rua, em situação de risco e de total abandono. Um leve sorriso de paz coloria sua face desgastada pelos anos expostos ao sofrimento, como se ela soubesse o final das estorias que eu ainda não vivera. Entreguei-me à essa atração e encostei o carro. Foi quando, sem que nenhum de nós dissesse nada, compreendi que há muito tempo ela tentava fazer um contato comigo, sempre no mesmo semáforo, tão tangível, a poucos segundos de distância. Percebi que somente há instantes é que havia, pela primeira vez, olhado diretamente nos seus olhos. Lembro-me que, nesse momento, senti a tristeza de toda a sua infeliz vida, cair sobre mim como um raio. Conheci em segundos todo o seu medo. Vivi, em um átimo, todo o preconceito que a impediu de progredir. Ainda sim, em seu silêncio, afirmou com grande clareza e autoridade, que nem tudo era o que parecia ser. Compreeendi naquele instante, que aquilo que vemos nos outros não passa de um reflexo daquilo que trazemos dentro de nós mesmos e que, antes de tudo, havia sido a sua pobreza que me ofendera. O medo do fracasso e da velhice, que ela, até então, representava tão bem, e que me apavorou tanto, silenciosamente, ao longo de toda a minha vida, havia se diluído, quase que por mágica, com seu sorriso infantil. Respondi apenas com um sorriso, simples e sincero, como nunca havia conseguido. Sem desviar seus olhos dos meus, abriu a porta do carro e saiu, quebrando o encanto em que estivemos mergulhados. Atendendo novamente, a uma ordem interior, liguei o carro e segui em meu novo caminho. Mais do que o cruzamento de nossos silêncios, cruzamos nossos segredos mais escondidos, sem que dessemos conta do poder desse encontro. Se nossos corações se uniram, tão profundamente, por alguns segundos ou se já estavam juntos por toda a vida, nunca saberei dizer. Hoje completa um mês e, finalmente, começo a duvidar que esse efusivo diálogo silencioso, tenha realmente acontecido.
Há trinta dias, na verdade, talvez eu tenha conhecido... a compaixão.



Augusto Citrangulo
São Paulo, 14 de agosto de 2009

DIÁLOGO



Hoje completa um mês. Há trinta dias venho, cotidianamente, ao mesmo local, na tentativa de reencontrá-la. Cheguei a vir até quatro vezes em um mesmo dia, na esperança de revê-la. É estranho, ainda acho difícil entender tudo o que houve. Na verdade, sinto-me estranho, confuso, ao relembrar como tudo aconteceu. Ano após ano, tudo parecia seguir a um roteiro predeterminado pela inteligência dos semáforos. Em meu caminho diário, acabava por parar, inevitavelmente, nesse farol e, sistematicamente, era abordado por pedintes e miseráveis que, como camaleões temáticos, mimetizavam-se em vendedores de guardachuva nos dias encobertos e, em vendedores de bandeiras, nas vésperas das finais de campeonatos. Entre essas figuras, uma me chamava a atencão de modo muito particular. Uma senhora de idade avançada, bem desgastada pela vida, despertava em mim, uma repugnância imediata. Não saberia dizer quanto tempo “convivi” com essa senhora, sempre no mesmo cruzamento, a poucos segundos de distância. Sua aparência, suas roupas esfarrapadas, sua sujeira, causavam em mim um mal estar de proporções inquietantes.Todas as vezes em que ali estive, ela se aproximava da janela do carro percorrendo o mesmo caminho, iniciando um ritual bastante conhecido. Eu evitava o seu olhar e fingia não notar a sua presença, antes que ela me dissesse ou oferecesse algo. Alguns dias, sofria por antecipação ao lembrar que estaria tão perto dela, mesmo que por poucos segundos. Cheguei a tentar outros caminhos, mais longos, mas que me livrassem daquela pessoa intragável. Agora ao relembrar esses incômodos encontros cotidianos é que percebo que, nas minhas tentativas de ignorá-la, nunca cogitei a idéia de que ela pudesse ter algo a me oferecer. Mantê-la à distância parecia-me a solução possível, ignorá-la, a ideal, ate' esse encontro especial que ficou marcado no calendário. Nesse dia, como de costume, já preparava meu espírito para vê-la, quando imediatamente no momento em que parei no farol, meu celular tocou desviando minha atenção. Quando levantei novamente meu olhar, olhei diretamente nos olhos desta velha desconhecida e assustei-me, de tal sorte, que gritei com todo o meu fôlego, como se tivesse recebido uma forte descarga elétrica. Surpreso e envergonhado pela minha reação tão imprópria agi, de maneira ainda mais inesperada e contraditória, ao perceber que meu alvo de observação também havia se assustado com meu grito. Abri então, não o vidro do carro, mas a porta do passageiro e, gentilmente, sinalizei para que ela entrasse, pois o semáforo já deveria estar prestes a abrir. Talvez, pelo inusitado da situação, ela obedeceu como um autômato responderia ao apelo de seu criador e entrou no carro ocupando o assento do passageiro no mesmo instante em que soou a primeira buzina que se antecipava à tão esperada luz verde. Mais uma vez, percebi que apenas reagia ao acelerar o carro, sem saber aonde ia, para onde levava aquela pessoa até então uma estranha. Tinha apenas uma certeza, a aversão que senti desde o primeiro instante em que a vi, transformava-se, inexplicavelmente, em uma fascinante cumplicidade, como se embora desconhecida, ela representasse algo de estranhamente familiar que, há muito, desejava reencontrar. Seu olhar transbordava uma confiança que me parecia imprópria para alguém que vivia indecentemente na rua, em situação de risco e de total abandono. Um leve sorriso de paz coloria sua face desgastada pelos anos expostos ao sofrimento, como se ela soubesse o final das estorias que eu ainda não vivera. Entreguei-me à essa atração e encostei o carro. Foi quando, sem que nenhum de nós dissesse nada, compreendi que há muito tempo ela tentava fazer um contato comigo, sempre no mesmo semáforo, tão tangível, a poucos segundos de distância. Percebi que somente há instantes é que havia, pela primeira vez, olhado diretamente nos seus olhos. Lembro-me que, nesse momento, senti a tristeza de toda a sua infeliz vida, cair sobre mim como um raio. Conheci em segundos todo o seu medo. Vivi, em um átimo, todo o preconceito que a impediu de progredir. Ainda sim, em seu silêncio, afirmou com grande clareza e autoridade, que nem tudo era o que parecia ser. Compreeendi naquele instante, que aquilo que vemos nos outros não passa de um reflexo daquilo que trazemos dentro de nós mesmos e que, antes de tudo, havia sido a sua pobreza que me ofendera. O medo do fracasso e da velhice, que ela, até então, representava tão bem, e que me apavorou tanto, silenciosamente, ao longo de toda a minha vida, havia se diluído, quase que por mágica, com seu sorriso infantil. Respondi apenas com um sorriso, simples e sincero, como nunca havia conseguido. Sem desviar seus olhos dos meus, abriu a porta do carro e saiu, quebrando o encanto em que estivemos mergulhados. Atendendo novamente, a uma ordem interior, liguei o carro e segui em meu novo caminho. Mais do que o cruzamento de nossos silêncios, cruzamos nossos segredos mais escondidos, sem que dessemos conta do poder desse encontro. Se nossos corações se uniram, tão profundamente, por alguns segundos ou se já estavam juntos por toda a vida, nunca saberei dizer. Hoje completa um mês e, finalmente, começo a duvidar que esse efusivo diálogo silencioso, tenha realmente acontecido.
Há trinta dias, na verdade, talvez eu tenha conhecido... a compaixão.



Augusto Citrangulo
São Paulo, 14 de agosto de 2009
Por Cassiano Ricardo:

Este sábado terá início o novo módulo do seminário Vozes da Globalização. A participação é aberta a todos, e fornecemos certificado de HORAS-CULTURAIS. Segue abaixo a programação:

Seminário Vozes da Globalização – Identidades e Gênero

Sábados – das 10h30 às 12h30



Uma série de oito palestras que discutem o problema do feminino na contemporaneidade. Será discutida a temática do gênero, aliada à questão das múltiplas identidades associadas, trazendo a perspectiva de diferentes estudos de professores universitários da área de História, Literatura, Antropologia e Ciências Políticas. Dentro dos objetivos do seminário, pretende-se aprofundar a discussão sobre diversidade de gênero e inclusão social em tempos de contemporaneidade. Tendo como enfoque a sociedade global, propõe-se uma reavaliação de qual é o “lugar” da mulher na literatura, na antropologia, na história e na canção.



22/05 Mulheres e a canção no Brasil

Com Ana Maria Dietrich



29/05 O lugar da mulher na literatura contemporânea

Com Beth Brait Alvim



12/06 O erotismo feminino na poesia brasileira da modernidade

Com Vanessa Molnar



19/06 Gênero, preconceitos & indiferenças: corpos em performances audiovisuais

Com Andrea Paula dos Santos



26/06 O feminino e o uso da internet na promoção de identidades

Com Claudio Luiz Camargo



03/07 Olhares da antropologia sobre a mulher

Com Ana Keila Pinezi



17/07 Masculinidades: (re)invenções de si e do outro

Com Fábio Henrique Lopes



24/07 Gênero, música eletrônica/eletroacústica e ciberpoética

Com Andrea Paula dos Santos



--
Cassiano Ricardo Tirapani
Casa da Palavra - 4992-7218
Praça do Carmo, 171, Santo André


--
A Casa da Palavra é um espaço público dedicado a uma programação de cunho cultural, localizada na Praça do Carmo, 171- Centro – Santo André - SP.

O seu trabalho é voltado aos apreciadores e produtores da literatura, pesquisadores, pensadores, estudantes, artistas, e aos mais diversos amantes da palavra.

Ela abriga em seu espaço a Escola Livre de Literatura (ELL), que se destina à difusão da Literatura, e à formação de novos leitores.

Venha conhecer a Casa da Palavra, estamos abertos a novas idéias!

Este espaço é um equipamento da Secretaria de Cultura Esportes e Lazer da Prefeitura Municipal de Santo André

Contato:

Telefone: 4992-7218

Visite também o nosso blog: http://casadapalavrasa.blogspot.com/

Para a apresentação de projetos ou cursos, contatar:
Cassiano Ricardo Tirapani - Coordenador da Casa da Palavra
crtirapani@gmail.com
Por Cassiano Ricardo:

Este sábado terá início o novo módulo do seminário Vozes da Globalização. A participação é aberta a todos, e fornecemos certificado de HORAS-CULTURAIS. Segue abaixo a programação:

Seminário Vozes da Globalização – Identidades e Gênero

Sábados – das 10h30 às 12h30



Uma série de oito palestras que discutem o problema do feminino na contemporaneidade. Será discutida a temática do gênero, aliada à questão das múltiplas identidades associadas, trazendo a perspectiva de diferentes estudos de professores universitários da área de História, Literatura, Antropologia e Ciências Políticas. Dentro dos objetivos do seminário, pretende-se aprofundar a discussão sobre diversidade de gênero e inclusão social em tempos de contemporaneidade. Tendo como enfoque a sociedade global, propõe-se uma reavaliação de qual é o “lugar” da mulher na literatura, na antropologia, na história e na canção.



22/05 Mulheres e a canção no Brasil

Com Ana Maria Dietrich



29/05 O lugar da mulher na literatura contemporânea

Com Beth Brait Alvim



12/06 O erotismo feminino na poesia brasileira da modernidade

Com Vanessa Molnar



19/06 Gênero, preconceitos & indiferenças: corpos em performances audiovisuais

Com Andrea Paula dos Santos



26/06 O feminino e o uso da internet na promoção de identidades

Com Claudio Luiz Camargo



03/07 Olhares da antropologia sobre a mulher

Com Ana Keila Pinezi



17/07 Masculinidades: (re)invenções de si e do outro

Com Fábio Henrique Lopes



24/07 Gênero, música eletrônica/eletroacústica e ciberpoética

Com Andrea Paula dos Santos



--
Cassiano Ricardo Tirapani
Casa da Palavra - 4992-7218
Praça do Carmo, 171, Santo André


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A Casa da Palavra é um espaço público dedicado a uma programação de cunho cultural, localizada na Praça do Carmo, 171- Centro – Santo André - SP.

O seu trabalho é voltado aos apreciadores e produtores da literatura, pesquisadores, pensadores, estudantes, artistas, e aos mais diversos amantes da palavra.

Ela abriga em seu espaço a Escola Livre de Literatura (ELL), que se destina à difusão da Literatura, e à formação de novos leitores.

Venha conhecer a Casa da Palavra, estamos abertos a novas idéias!

Este espaço é um equipamento da Secretaria de Cultura Esportes e Lazer da Prefeitura Municipal de Santo André

Contato:

Telefone: 4992-7218

Visite também o nosso blog: http://casadapalavrasa.blogspot.com/

Para a apresentação de projetos ou cursos, contatar:
Cassiano Ricardo Tirapani - Coordenador da Casa da Palavra
crtirapani@gmail.com

quarta-feira, 19 de maio de 2010



A PEDRA



Logo que entrei senti algo diferente naquele ambiente que sempre me fora tão familiar. Meus sentidos sinalizavam que havia mudanças sutis transformando aquele local que sempre imaginei cristalizado. Uma leve brisa arrepiou meu braço trazendo um sabor de novidade e um aroma de renovação. Ruídos vinham da rua logo abaixo com uma clareza que até então julgaria impossível. A paisagem lá fora, emitia pela janela uma forte luz difusa que cintilava nos prédios vizinhos, causando-me uma cegueira branca, intensa. Apenas neste momento notei um velho homem que falava, como se repetisse o mesmo discurso, desde os tempos mais remotos. Percebi que ele trazia em suas mãos uma pedra, pouco maior que uma maçã. O mais estranho foi que, só então, pude entender a causa das mudanças. O tapume que cobria a janela não estava mais lá. Acostumei-me com ele ali, ao longo de todos esses anos, décadas na verdade. A cor da madeira, escurecendo através dos tempos, as manchas crescendo em sua velocidade imperceptível para olhos cotidianos. Acostumei-me com ele ali, ao longo de todos esses anos, acho que até cheguei a gostar dele. É verdade também que a sua existência nunca favoreceu a ampliação de meus horizontes mas, estava lá, sempre esteve. Atraído pela luz, descobri que aquilo que, durante tanto tempo, acreditava ser apenas uma janela, era uma porta que levava a uma varanda enorme. Seguido de perto pelo velho homem, ia sair para conhecer a paisagem quando, pela primeira vez, compreendi que ele tentava se desculpar, explicando dolorosamente, que fora ele que, por acidente, havia derrubado a fina madeira apodrecida que teimava em esconder os sentidos vitais da cidade. Há anos, contou-me ele, um pedaço de alvenaria caiu da mureta depois de uma forte chuva. Não sabendo como recolocá-lo no lugar,desistiu de consertar a parede, cobriu a janela com madeira para não ver o muro quebrado mas, guardou o pedaço. Vi então que a pedra em suas mãos era esse caco âmbar do passado, ainda insepulto. Retomei meu caminho para a varanda, curioso em encontrar o lugar de destino daquela peça. Nada mais do que três passos consegui caminhar até que todo o piso externo ruísse abaixo de mim. Toda a estrutura estava podre. Do piso às paredes. Tudo o que fora ocultado quando novo agora jazia explicitamente velho. Recuperado do susto observei os edifícios ao meu redor. Encontravam-se no mesmo estado, como se toda a paisagem tivesse envelhecido em alguns poucos segundos. Mais do que isso, me dei conta de que era atentamente observado por um frontão vivo, dinâmico, de figuras romanas, armadas para a guerra, que desfilavam em um pavimento de um prédio vizinho. Agora o velho homem já chorava, consciente de que seria impossível recolocar aquela preciosa peça de fechamento no quebra-cabeça de sua vida. Saí em silêncio. Ao fechar a porta atrás de mim, uma mancha escura invadiu o hall do elevador. Como uma gota de tinta sobre um papel úmido, alastrou-se rapidamente, cobrindo tudo, como uma noite de nanquim.


texto: Augusto Citrangulo
http://www.volkano.tk
fotografia: Rodrigo Acosta


A PEDRA



Logo que entrei senti algo diferente naquele ambiente que sempre me fora tão familiar. Meus sentidos sinalizavam que havia mudanças sutis transformando aquele local que sempre imaginei cristalizado. Uma leve brisa arrepiou meu braço trazendo um sabor de novidade e um aroma de renovação. Ruídos vinham da rua logo abaixo com uma clareza que até então julgaria impossível. A paisagem lá fora, emitia pela janela uma forte luz difusa que cintilava nos prédios vizinhos, causando-me uma cegueira branca, intensa. Apenas neste momento notei um velho homem que falava, como se repetisse o mesmo discurso, desde os tempos mais remotos. Percebi que ele trazia em suas mãos uma pedra, pouco maior que uma maçã. O mais estranho foi que, só então, pude entender a causa das mudanças. O tapume que cobria a janela não estava mais lá. Acostumei-me com ele ali, ao longo de todos esses anos, décadas na verdade. A cor da madeira, escurecendo através dos tempos, as manchas crescendo em sua velocidade imperceptível para olhos cotidianos. Acostumei-me com ele ali, ao longo de todos esses anos, acho que até cheguei a gostar dele. É verdade também que a sua existência nunca favoreceu a ampliação de meus horizontes mas, estava lá, sempre esteve. Atraído pela luz, descobri que aquilo que, durante tanto tempo, acreditava ser apenas uma janela, era uma porta que levava a uma varanda enorme. Seguido de perto pelo velho homem, ia sair para conhecer a paisagem quando, pela primeira vez, compreendi que ele tentava se desculpar, explicando dolorosamente, que fora ele que, por acidente, havia derrubado a fina madeira apodrecida que teimava em esconder os sentidos vitais da cidade. Há anos, contou-me ele, um pedaço de alvenaria caiu da mureta depois de uma forte chuva. Não sabendo como recolocá-lo no lugar,desistiu de consertar a parede, cobriu a janela com madeira para não ver o muro quebrado mas, guardou o pedaço. Vi então que a pedra em suas mãos era esse caco âmbar do passado, ainda insepulto. Retomei meu caminho para a varanda, curioso em encontrar o lugar de destino daquela peça. Nada mais do que três passos consegui caminhar até que todo o piso externo ruísse abaixo de mim. Toda a estrutura estava podre. Do piso às paredes. Tudo o que fora ocultado quando novo agora jazia explicitamente velho. Recuperado do susto observei os edifícios ao meu redor. Encontravam-se no mesmo estado, como se toda a paisagem tivesse envelhecido em alguns poucos segundos. Mais do que isso, me dei conta de que era atentamente observado por um frontão vivo, dinâmico, de figuras romanas, armadas para a guerra, que desfilavam em um pavimento de um prédio vizinho. Agora o velho homem já chorava, consciente de que seria impossível recolocar aquela preciosa peça de fechamento no quebra-cabeça de sua vida. Saí em silêncio. Ao fechar a porta atrás de mim, uma mancha escura invadiu o hall do elevador. Como uma gota de tinta sobre um papel úmido, alastrou-se rapidamente, cobrindo tudo, como uma noite de nanquim.


texto: Augusto Citrangulo
http://www.volkano.tk
fotografia: Rodrigo Acosta

Augusto Citrangulo (Guto) é arquiteto e artista plástico. Seus trabalhos mostram seu olhar apurado sobre o mundo. Trabalhamos juntos em oficinas artístico-culturais e qual minha surpresa em descobrir que expressa-se tão bem através da palavra, com poesias e contos! Aqui segue um de seus contos. Este, ácido (adoro!).
Seus trabalhos visuais podem ser apreciados através de seu site:
http://www.volcano.tk/
Guto, queria colocar aqui a sua foto de barbicha lá do site, mas não deu... Snif!
NUNCA pare de escrever. Tua palavra é um presente.



PASSEIO NO PARQUE

Acho que já escutei alguém dizer que os humanos são incapazes de ouvir os ratos. Talvez tenha sido aquela professora... Como era mesmo o nome dela? Sei lá... Como assim? incapazes de ouvir os ratos... Só um puta mauricinho não ouviria isso... Quando mesmo tive aula com ela?... Não tenho a menor idéia... Que apenas os cachorros conseguem ouvir, blábláblábláblábláblábláblá... Só pode ter sido na primeira ou na segunda série, era tanto blábláblá... Porra, que merda... Eu parei foi na terceira ou na segunda? Bom, tanto faz... O que será que ela quis dizer?... Será que isso não é rato?... Será que eu é que estou virando cachorro?... É véio, só se for daquele bem bagaceiro, puro vira-lata mesmo. Mas, que eu escuto esses filhos da puta, isso eu escuto... A noite inteira, roendo os pés da cama. Difícil é chamar isso de pé ou, pior ainda, isso de cama. E esse calor então... Tá foda, negão! O cheiro que sobe do córrego é do caralho. Esgoto puro. Mistura de merda, mijo, rato morto, corpo podre...Tá ligado? A imagem dos ratos, comendo tudo o que esta por perto, sacia minha fome. O fedor da água inunda minha garganta e sacia minha sede. Já chega! Desisto de tentar dormir... Vou dar um rolê. Ainda bem, que ainda ontem, ganhei essa magrela daquele playboy... Vacilão da porra! Quando saí, os manos já estavam todos montados nos camelos, só zoando... Eles sim é que são espertos... Nem mais casas têm para dormir... Ficam assim... À toa... Vivendo a vida... A toda. Dei uma calibrada com a rapaziada e saímos gritando... Para acordar esse povinho de bosta que quer descansar durante a noite para acordar no dia seguinte, bem cedinho e ir trampar... Produzir mais riqueza... Para os mesmos... Aumentar as diferenças... As distâncias... No fundo, acho que tenho pena deles... Dessa vidazinha medíocre que eles levam. Tomar um pipoco pode até ser legal para um cara desses... Pelo menos, não vai ter que levantar mais tão cedo, por tão pouco. Acho que é isso mesmo, sou meio... Um justiceiro às avessas... Uns matam bandido... Outros matam burguês... Tem que ser simples assim... Se não, complica. Vamos se divertir, e tirar uma com aqueles burguesinhos cagões, andando lá no parque. Mal entramos e já vem um bundão, dar lição de moral, éproibidoandardebicicleta, nãosabelernãomoleque?, querquechameapolícia?... Vamos lá cuzão, vou junto, adoro polícia. Babaca, ainda me olha nos olhos. Só estou aqui para me divertir. Arrumar uma treta é puro lucro para mim, que não espero nada deste dia. Você não sabe de nada. Não tenho nada a perder, só fedor e miséria. Você não vacilão, hoje deu sorte, só não perdeu porque, ontem à noite, queria dormir e troquei meu ferro por uma pedra. Comemora bonitão, hoje é o primeiro dia do resto da sua vida. Aproveite enquanto pode. Quem sabe algum dia, depois do silêncio de uma longa noite de sono, repleta de lindos sonhos, numa cama bem gostosa, talvez eu te reencontre, bem cedinho, tranquilamente, passeando no parque. Na real, nada importa. Fui...

São Paulo, 25 de fevereiro de 2010

fotografia de Rodrigo Acosta

Augusto Citrangulo (Guto) é arquiteto e artista plástico. Seus trabalhos mostram seu olhar apurado sobre o mundo. Trabalhamos juntos em oficinas artístico-culturais e qual minha surpresa em descobrir que expressa-se tão bem através da palavra, com poesias e contos! Aqui segue um de seus contos. Este, ácido (adoro!).
Seus trabalhos visuais podem ser apreciados através de seu site:
http://www.volcano.tk/
Guto, queria colocar aqui a sua foto de barbicha lá do site, mas não deu... Snif!
NUNCA pare de escrever. Tua palavra é um presente.



PASSEIO NO PARQUE

Acho que já escutei alguém dizer que os humanos são incapazes de ouvir os ratos. Talvez tenha sido aquela professora... Como era mesmo o nome dela? Sei lá... Como assim? incapazes de ouvir os ratos... Só um puta mauricinho não ouviria isso... Quando mesmo tive aula com ela?... Não tenho a menor idéia... Que apenas os cachorros conseguem ouvir, blábláblábláblábláblábláblá... Só pode ter sido na primeira ou na segunda série, era tanto blábláblá... Porra, que merda... Eu parei foi na terceira ou na segunda? Bom, tanto faz... O que será que ela quis dizer?... Será que isso não é rato?... Será que eu é que estou virando cachorro?... É véio, só se for daquele bem bagaceiro, puro vira-lata mesmo. Mas, que eu escuto esses filhos da puta, isso eu escuto... A noite inteira, roendo os pés da cama. Difícil é chamar isso de pé ou, pior ainda, isso de cama. E esse calor então... Tá foda, negão! O cheiro que sobe do córrego é do caralho. Esgoto puro. Mistura de merda, mijo, rato morto, corpo podre...Tá ligado? A imagem dos ratos, comendo tudo o que esta por perto, sacia minha fome. O fedor da água inunda minha garganta e sacia minha sede. Já chega! Desisto de tentar dormir... Vou dar um rolê. Ainda bem, que ainda ontem, ganhei essa magrela daquele playboy... Vacilão da porra! Quando saí, os manos já estavam todos montados nos camelos, só zoando... Eles sim é que são espertos... Nem mais casas têm para dormir... Ficam assim... À toa... Vivendo a vida... A toda. Dei uma calibrada com a rapaziada e saímos gritando... Para acordar esse povinho de bosta que quer descansar durante a noite para acordar no dia seguinte, bem cedinho e ir trampar... Produzir mais riqueza... Para os mesmos... Aumentar as diferenças... As distâncias... No fundo, acho que tenho pena deles... Dessa vidazinha medíocre que eles levam. Tomar um pipoco pode até ser legal para um cara desses... Pelo menos, não vai ter que levantar mais tão cedo, por tão pouco. Acho que é isso mesmo, sou meio... Um justiceiro às avessas... Uns matam bandido... Outros matam burguês... Tem que ser simples assim... Se não, complica. Vamos se divertir, e tirar uma com aqueles burguesinhos cagões, andando lá no parque. Mal entramos e já vem um bundão, dar lição de moral, éproibidoandardebicicleta, nãosabelernãomoleque?, querquechameapolícia?... Vamos lá cuzão, vou junto, adoro polícia. Babaca, ainda me olha nos olhos. Só estou aqui para me divertir. Arrumar uma treta é puro lucro para mim, que não espero nada deste dia. Você não sabe de nada. Não tenho nada a perder, só fedor e miséria. Você não vacilão, hoje deu sorte, só não perdeu porque, ontem à noite, queria dormir e troquei meu ferro por uma pedra. Comemora bonitão, hoje é o primeiro dia do resto da sua vida. Aproveite enquanto pode. Quem sabe algum dia, depois do silêncio de uma longa noite de sono, repleta de lindos sonhos, numa cama bem gostosa, talvez eu te reencontre, bem cedinho, tranquilamente, passeando no parque. Na real, nada importa. Fui...

São Paulo, 25 de fevereiro de 2010

fotografia de Rodrigo Acosta
lEILA MÍCOLLIS CONVIDA:

SACIEDADE DOS POETAS VIVOS - VOL. 10 - Há apenas mais cinco vagas para nossa próxima Antologia Digital, cujo tema é: beijos (de mãe, de amigo, de Judas, apaixonado, roubado, lábios, etc.). Pretendemos lançá-la às vésperas do Dia dos Namorados. São apenas 17 participantes, criteriosamente selecionados. Você se destaca na imensidão do portal e também ajuda Blocos a manter-se vivo. Os interessados em participar deste projeto, escrevam com a maior urgência para: blocos@blocosonline.com.br
lEILA MÍCOLLIS CONVIDA:

SACIEDADE DOS POETAS VIVOS - VOL. 10 - Há apenas mais cinco vagas para nossa próxima Antologia Digital, cujo tema é: beijos (de mãe, de amigo, de Judas, apaixonado, roubado, lábios, etc.). Pretendemos lançá-la às vésperas do Dia dos Namorados. São apenas 17 participantes, criteriosamente selecionados. Você se destaca na imensidão do portal e também ajuda Blocos a manter-se vivo. Os interessados em participar deste projeto, escrevam com a maior urgência para: blocos@blocosonline.com.br

Garganta da Serpente





Confiram as novidades de 19 de maio de 2010:

Artigos Envenenados.:
- A inspiração vem de onde? (Hélio Consolaro)

Adoradores de Serpentes.:
- Novos poemas em homenagem aos ofídios

Veneno Crônico.:
- A felicidade de um novo dia (Marcial Salaverry)
- O Brasil é Um País Rico. Será? (Josie Mendonça)
- Mulher Inteirada (Marluce Portugaels)

Cobra Cega.:
Todo dia um poema diferente

A Boca do Crocodilo.:
Todos os dias, 5 citações diferentes:



"Ninguém deve cometer a mesma tolice duas vezes.
A possibilidade de escolha é muito grande" (Jean-Paul Sartre)

Garganta da Serpente





Confiram as novidades de 19 de maio de 2010:

Artigos Envenenados.:
- A inspiração vem de onde? (Hélio Consolaro)

Adoradores de Serpentes.:
- Novos poemas em homenagem aos ofídios

Veneno Crônico.:
- A felicidade de um novo dia (Marcial Salaverry)
- O Brasil é Um País Rico. Será? (Josie Mendonça)
- Mulher Inteirada (Marluce Portugaels)

Cobra Cega.:
Todo dia um poema diferente

A Boca do Crocodilo.:
Todos os dias, 5 citações diferentes:



"Ninguém deve cometer a mesma tolice duas vezes.
A possibilidade de escolha é muito grande" (Jean-Paul Sartre)

terça-feira, 18 de maio de 2010

CASA ENGRAÇADA










Terceiro andar:


tranco a porta e saio.


Silêncio evangélico do vizinho ao lado.


Desço as escadas, segundo andar:


a amante urra de prazer


com as fincadas do vizinho pagodeiro do 23.


Lixo amarradinho em sacolinhas de mercado


do vizinho do 21.


O cheiro de sexo mistura-se ao do lixo orgânico.


Desço as escadas, primeiro andar:


flores de plástico, tapetinhos bordados,


desmilinguidos pregando a servidão à Cristo.


Desço as escadas, térreo:


correspondências esquecidas,


destinatários inexistentes,


tranco a porta. Garagem:


o lixo de doze moradores se acumula na lixeira geral.


Moscas, podridão e a certidão assinada


de vidas que não se cruzam,


pessoas que dividem paredes,


mas não se conhecem.


Cada um no seu quadrado.




PAM

Fotografia: Rodrigo Acosta




CASA ENGRAÇADA










Terceiro andar:


tranco a porta e saio.


Silêncio evangélico do vizinho ao lado.


Desço as escadas, segundo andar:


a amante urra de prazer


com as fincadas do vizinho pagodeiro do 23.


Lixo amarradinho em sacolinhas de mercado


do vizinho do 21.


O cheiro de sexo mistura-se ao do lixo orgânico.


Desço as escadas, primeiro andar:


flores de plástico, tapetinhos bordados,


desmilinguidos pregando a servidão à Cristo.


Desço as escadas, térreo:


correspondências esquecidas,


destinatários inexistentes,


tranco a porta. Garagem:


o lixo de doze moradores se acumula na lixeira geral.


Moscas, podridão e a certidão assinada


de vidas que não se cruzam,


pessoas que dividem paredes,


mas não se conhecem.


Cada um no seu quadrado.




PAM

Fotografia: Rodrigo Acosta




segunda-feira, 17 de maio de 2010

A PORRA DO PSICANALISTA




Ele abriu a porta da sala, esperou que eu entrasse e me acomodasse. Na sala, dois sofás, um em L e outro de dois lugares. Sentei-me no cantinho do sofá em L de costas para a janela cheia de grades e acompanhada de minha sacolinha de primeiros socorros que continha um rolo novíssimo de papel higiênico, daqueles dos bons, branquinho e que não rala o nariz. ..Acho que a janela cheia de grades tinha como objetivo evitar uma eventual fuga de pacientes , pois esse tipo de situação desperta em qualquer um de início essa vontade quase que incontrolável Percebi que ele analisava todo e qualquer movimento que brotava do meu corpo.
Sentou-se então no sofá de dois lugares, no canto esquerdo (no meu ângulo de visão) e apoiou o braço esquerdo (dele) sobre o encosto do sofá do lado direito (também no meu ângulo de visão), como quem senta acompanhado e enlaça os ombros de seu (ua) companheiro (a).
Tive mesmo a impressão de que ele realmente estava acompanhado, principalmente quando começou sua fala.
Dizia: "Porque NÓS temos uma linha de trabalho que difere das outras. Todo trabalho apresenta diversas linhas, o NOSSO trabalho segue uma delas." (Lembrei-me imediatamente das aulas do curso de Pedagogia) ... Patati Patatá e uma infindável explicação sobre o funcionamento da Linha de trabalho DELES (????).
Uma sutileza e enrolação ao falar, que estava me deixando LOUCA! Por que as pessoas não são mais claras, objetivas? Por que não vão direto ao assunto? Por que para dizer que "comeram uma maçã" precisam dizer que "existe a natureza e que entre as diversas espécies vegetativas existentes na natureza existe uma árvore que se chama macieira, e que em um determinado momento inútil da vida dele ele plantou uma muda dessa maldita árvore, que levou anos para crescer e dar frutos. Esses frutos dessa maldita árvore tem como nome maçãs e ele sutilmente pegou uma escada de madeira construída com o tronco de uma árvore que existe na natureza (deve ter pegado mesmo, pelo perfil do cara) subiu nessa escada de árvore morta e colheu um desses frutos que se chama maçã e comeu".
Arrrrrrgh!!!!!
Seu discurso era tão sutil (deve ter trocado figurinhas com minha psiquiatra antes de conversar comigo) que me levava à um nível de irritação quase que insuportável.
"Porque NÓS vamos abrir a caixinha de Pandora, e lá, há coisas boas e ruins" (Pandora fudeu com tudo, resumindo).
"Mas quem vai decidir se vai encarar as coisinhas boas e ruins que saem da caixinha Pandora é a PAM (?????). NÓS (abraçado ao sofá. Comecei mesmo a pensar que ele não estava sozinho...) precisamos saber o que trouxe a PAM aqui, NÓS precisamos saber se a PAM está mesmo disposta a ir até o fim".
Ele definitivamente (como dizia Rain Main) não estava dirigindo as palavras à mim, devia estar falando diretamente com meus fantasmas. Acho que a mesma impressão que tive sobre ele abraçado ao sofá acompanhado por uma pessoa invisível ele teve sobre mim, sentada na pontinha do sofá L, acompanhada por vários fantasmas, meus fantasmas, aqueles com os quais por anos evitei conversar. Ao contrário de mim, ele provavelmente estava "visualizando" meus fantasmas, mas eu por mais que me esforçasse não conseguia "visualizar" a pessoa que o acompanhava.
"Existem três forças que nos regem, forças às quais devemos dar a devida atenção simultaneamente e equilibradamente, pois caso contrário essas forças entram em desequilíbrio e nos tornamos desequilibrados" (Ah.... Não diga!).
"Essas forças regem nossa vida e interferem diretamente no nosso bem estar, na nossa harmonia e consequentemente na harmonia das pessoas que nos rodeiam" (???????) E é difícil, muito difícil, mas não impossível, só depende da PAM (Arrrrgh! Estou aqui, porra!). "Todos são regidos por essas forças" (por que ele não fala logo quais são os raios das três forças e como fazer para mimá-las?).
Então eu digo: "E??????????"
"Então, se você der muita atenção à apenas uma delas, seja qual for, as outras ficarão desequilibradas, é como se fosse um triângulo".
"Então eu digo de novo: "E????????? Quais são?"
"Então, uma é a material (puta que o pariu, ele vai me falar para não comer mais batata frita, nem comer a caixinha inteira de BIS), a outra é a psico-emocional, e a outra é a energética, de energia mesmo. E..........................." Arrrrrgh! Cazuza tinha razão: "Eu vou pagar a conta do analista, pra nunca mais ter que saber quem eu sou".
"Pelo que você me diz, você é muito nervosa, por quê? Porque come a caixinha inteira de BIS (não falei que ele iria proibir a caixinha inteira de BIS ?), acumula muita energia, e não a queima fisicamente, descompensando sua regência energética, ou seja, descarregando de forma agressiva essa energia nas pessoas ao seu redor, provocando desarmonia.........."
Meu, sinceramente, eu não tô a fim de parar de comer batata frita, comer apenas três bombons BIS da caixinha, fazer ginástica e, se eu não dou conta nem de mim, que dirá de trÊs forças regentes, simultaneamente e equilibradamente? Cara, a vida é mais simples.
"Então, a PAM precisa saber que é tudo muito difícil, mas não impossível, só depende da PAM". Cara, se é tudo tão difícil, melhor se matar. Fiquei me imaginando em malabares, com três bolinhas, cada uma representando uma força regente e eu lá, olhando pras bolinhas e jogando elas para o alto sem deixar nenhuma cair.
E se eu pisar na merda? TODAS vão cair. Estão vendo? é um risco que se corre. Pisar na merda tentando equilibrar as bolinhas malabares das forças regentes.
"É importante que a PAM saiba que no momento não é recomendável que a PAM pare de tomar o fenobarbital, a risperidona e o Clobazam". Pensei: nem parar de comer batata frita e BIS.
"Sabe, a PAM precisa saber que a PAM necessita saber lidar com as questões ruins (ele se referia aos meus fantasmas). NÓS vamos abrir um leque de opções para que a PAM faça suas escolhas, mas a PAM deve saber fazer a escolha certa, precisa mudar". (Ninguém muda, eu sou eu, pronto acabou.)
"A PAM é muito teimosa e nervosa. Precisa mudar".
Nesse momento eu olhei bem pra cara dele e disse:
"O que você está querendo dizer é que eu sou infantil, tenho uma idade mental de doze anos, assim como a minha psiquiatra me falou?"
"Hummmmmmm.... É mais ou menos isso."
"Ah! tá bom. Isso eu já sabia."
Ele falava, e falava, e falava e a cada três palavras que falava dizia: "É tudo muito difícil..." E erguia o lábio superior direito (no meu ângulo de visão), o que me deixava meio enojada, pois dava pra ver parte da gengiva dele que com o movimento daquele tique nervoso produzia uma gosminha esbranquiçada e espumante. Tentava a todo momento justificar a eficácia da metodologia de trabalho DELES e convencer a PAM de que ELA realmente precisava ir até o final.
"Então, a PAM precisa saber que nada é fácil, é tudo difícil."
Aí, eu, de novo parei o discurso dele e perguntei:
"O que você está querendo me dizer é que eu sou covarde por ter adiado por 37 anos esse momento e que é preciso coragem para "visualizar?" e encarar os meus fantasmas?"
"Hummmmmmmm..... NÓS damos outro nome para "seus fantasmas". NÒS o chamamos de questões".
"Tá. Que seja. É isso?"
"Hummmmmmmmm.... É mais ou menos isso. Mas se vocÊ demorou 37 anos para chegar até aqui, provavelmente levará mais 37 anos para resolver totalmente suas questões"
. Não disse que era mais fácil se matar?
Ai, come logo essa maçã! Parece político falando. Enrola, enrola, enrola e não diz nada!
"Bem, pense sobre nossa conversa de hoje e tente desde já equilibrar suas forças regentes, para que possamos continuar nossa conversa na semana seguinte."
Ufa! Até que enfim. Cinquenta minutos infindáveis e torturantes.
Não é à toa que fui classificada como psicótica esquisofrênica delirante.
Despedi-me. Saí de lá e fui diretamente ao Fast Food mais próximo comer batata frita, um sanduíche sem alface e tomar um bom milk shake bem doce.

PAM

A PORRA DO PSICANALISTA




Ele abriu a porta da sala, esperou que eu entrasse e me acomodasse. Na sala, dois sofás, um em L e outro de dois lugares. Sentei-me no cantinho do sofá em L de costas para a janela cheia de grades e acompanhada de minha sacolinha de primeiros socorros que continha um rolo novíssimo de papel higiênico, daqueles dos bons, branquinho e que não rala o nariz. ..Acho que a janela cheia de grades tinha como objetivo evitar uma eventual fuga de pacientes , pois esse tipo de situação desperta em qualquer um de início essa vontade quase que incontrolável Percebi que ele analisava todo e qualquer movimento que brotava do meu corpo.
Sentou-se então no sofá de dois lugares, no canto esquerdo (no meu ângulo de visão) e apoiou o braço esquerdo (dele) sobre o encosto do sofá do lado direito (também no meu ângulo de visão), como quem senta acompanhado e enlaça os ombros de seu (ua) companheiro (a).
Tive mesmo a impressão de que ele realmente estava acompanhado, principalmente quando começou sua fala.
Dizia: "Porque NÓS temos uma linha de trabalho que difere das outras. Todo trabalho apresenta diversas linhas, o NOSSO trabalho segue uma delas." (Lembrei-me imediatamente das aulas do curso de Pedagogia) ... Patati Patatá e uma infindável explicação sobre o funcionamento da Linha de trabalho DELES (????).
Uma sutileza e enrolação ao falar, que estava me deixando LOUCA! Por que as pessoas não são mais claras, objetivas? Por que não vão direto ao assunto? Por que para dizer que "comeram uma maçã" precisam dizer que "existe a natureza e que entre as diversas espécies vegetativas existentes na natureza existe uma árvore que se chama macieira, e que em um determinado momento inútil da vida dele ele plantou uma muda dessa maldita árvore, que levou anos para crescer e dar frutos. Esses frutos dessa maldita árvore tem como nome maçãs e ele sutilmente pegou uma escada de madeira construída com o tronco de uma árvore que existe na natureza (deve ter pegado mesmo, pelo perfil do cara) subiu nessa escada de árvore morta e colheu um desses frutos que se chama maçã e comeu".
Arrrrrrgh!!!!!
Seu discurso era tão sutil (deve ter trocado figurinhas com minha psiquiatra antes de conversar comigo) que me levava à um nível de irritação quase que insuportável.
"Porque NÓS vamos abrir a caixinha de Pandora, e lá, há coisas boas e ruins" (Pandora fudeu com tudo, resumindo).
"Mas quem vai decidir se vai encarar as coisinhas boas e ruins que saem da caixinha Pandora é a PAM (?????). NÓS (abraçado ao sofá. Comecei mesmo a pensar que ele não estava sozinho...) precisamos saber o que trouxe a PAM aqui, NÓS precisamos saber se a PAM está mesmo disposta a ir até o fim".
Ele definitivamente (como dizia Rain Main) não estava dirigindo as palavras à mim, devia estar falando diretamente com meus fantasmas. Acho que a mesma impressão que tive sobre ele abraçado ao sofá acompanhado por uma pessoa invisível ele teve sobre mim, sentada na pontinha do sofá L, acompanhada por vários fantasmas, meus fantasmas, aqueles com os quais por anos evitei conversar. Ao contrário de mim, ele provavelmente estava "visualizando" meus fantasmas, mas eu por mais que me esforçasse não conseguia "visualizar" a pessoa que o acompanhava.
"Existem três forças que nos regem, forças às quais devemos dar a devida atenção simultaneamente e equilibradamente, pois caso contrário essas forças entram em desequilíbrio e nos tornamos desequilibrados" (Ah.... Não diga!).
"Essas forças regem nossa vida e interferem diretamente no nosso bem estar, na nossa harmonia e consequentemente na harmonia das pessoas que nos rodeiam" (???????) E é difícil, muito difícil, mas não impossível, só depende da PAM (Arrrrgh! Estou aqui, porra!). "Todos são regidos por essas forças" (por que ele não fala logo quais são os raios das três forças e como fazer para mimá-las?).
Então eu digo: "E??????????"
"Então, se você der muita atenção à apenas uma delas, seja qual for, as outras ficarão desequilibradas, é como se fosse um triângulo".
"Então eu digo de novo: "E????????? Quais são?"
"Então, uma é a material (puta que o pariu, ele vai me falar para não comer mais batata frita, nem comer a caixinha inteira de BIS), a outra é a psico-emocional, e a outra é a energética, de energia mesmo. E..........................." Arrrrrgh! Cazuza tinha razão: "Eu vou pagar a conta do analista, pra nunca mais ter que saber quem eu sou".
"Pelo que você me diz, você é muito nervosa, por quê? Porque come a caixinha inteira de BIS (não falei que ele iria proibir a caixinha inteira de BIS ?), acumula muita energia, e não a queima fisicamente, descompensando sua regência energética, ou seja, descarregando de forma agressiva essa energia nas pessoas ao seu redor, provocando desarmonia.........."
Meu, sinceramente, eu não tô a fim de parar de comer batata frita, comer apenas três bombons BIS da caixinha, fazer ginástica e, se eu não dou conta nem de mim, que dirá de trÊs forças regentes, simultaneamente e equilibradamente? Cara, a vida é mais simples.
"Então, a PAM precisa saber que é tudo muito difícil, mas não impossível, só depende da PAM". Cara, se é tudo tão difícil, melhor se matar. Fiquei me imaginando em malabares, com três bolinhas, cada uma representando uma força regente e eu lá, olhando pras bolinhas e jogando elas para o alto sem deixar nenhuma cair.
E se eu pisar na merda? TODAS vão cair. Estão vendo? é um risco que se corre. Pisar na merda tentando equilibrar as bolinhas malabares das forças regentes.
"É importante que a PAM saiba que no momento não é recomendável que a PAM pare de tomar o fenobarbital, a risperidona e o Clobazam". Pensei: nem parar de comer batata frita e BIS.
"Sabe, a PAM precisa saber que a PAM necessita saber lidar com as questões ruins (ele se referia aos meus fantasmas). NÓS vamos abrir um leque de opções para que a PAM faça suas escolhas, mas a PAM deve saber fazer a escolha certa, precisa mudar". (Ninguém muda, eu sou eu, pronto acabou.)
"A PAM é muito teimosa e nervosa. Precisa mudar".
Nesse momento eu olhei bem pra cara dele e disse:
"O que você está querendo dizer é que eu sou infantil, tenho uma idade mental de doze anos, assim como a minha psiquiatra me falou?"
"Hummmmmmm.... É mais ou menos isso."
"Ah! tá bom. Isso eu já sabia."
Ele falava, e falava, e falava e a cada três palavras que falava dizia: "É tudo muito difícil..." E erguia o lábio superior direito (no meu ângulo de visão), o que me deixava meio enojada, pois dava pra ver parte da gengiva dele que com o movimento daquele tique nervoso produzia uma gosminha esbranquiçada e espumante. Tentava a todo momento justificar a eficácia da metodologia de trabalho DELES e convencer a PAM de que ELA realmente precisava ir até o final.
"Então, a PAM precisa saber que nada é fácil, é tudo difícil."
Aí, eu, de novo parei o discurso dele e perguntei:
"O que você está querendo me dizer é que eu sou covarde por ter adiado por 37 anos esse momento e que é preciso coragem para "visualizar?" e encarar os meus fantasmas?"
"Hummmmmmmm..... NÓS damos outro nome para "seus fantasmas". NÒS o chamamos de questões".
"Tá. Que seja. É isso?"
"Hummmmmmmmm.... É mais ou menos isso. Mas se vocÊ demorou 37 anos para chegar até aqui, provavelmente levará mais 37 anos para resolver totalmente suas questões"
. Não disse que era mais fácil se matar?
Ai, come logo essa maçã! Parece político falando. Enrola, enrola, enrola e não diz nada!
"Bem, pense sobre nossa conversa de hoje e tente desde já equilibrar suas forças regentes, para que possamos continuar nossa conversa na semana seguinte."
Ufa! Até que enfim. Cinquenta minutos infindáveis e torturantes.
Não é à toa que fui classificada como psicótica esquisofrênica delirante.
Despedi-me. Saí de lá e fui diretamente ao Fast Food mais próximo comer batata frita, um sanduíche sem alface e tomar um bom milk shake bem doce.

PAM

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O POETA





O poeta segurou minhas mãos
Abriu meus olhos
Espremeu meu coração.
O poeta secou minhas lágrimas
Molhou meu sexo
destrancou meu pensamento.
O poeta sugou meus olhos
Bebeu meu coração
Comeu minha alma.
O poeta assassinou
para ressuscitar.


PAM

O POETA





O poeta segurou minhas mãos
Abriu meus olhos
Espremeu meu coração.
O poeta secou minhas lágrimas
Molhou meu sexo
destrancou meu pensamento.
O poeta sugou meus olhos
Bebeu meu coração
Comeu minha alma.
O poeta assassinou
para ressuscitar.


PAM

TABA DE CORUMBÊ






Neste domingo dia 16 de maio de 2010 acontecerá a “OFICINA DE POESIA” da Taba de Corumbê. Evento aberto e livre.
Domingo: 16/05/2010 - 15h00 ás 17h00
Local: TEATRO MUNICIPAL DE MAUÁ
Rua Gabriel Marques, n.º 353 - Centro – Mauá – SP
(Acesso também pela Avenida João Ramalho, 456.

TABA DE CORUMBÊ






Neste domingo dia 16 de maio de 2010 acontecerá a “OFICINA DE POESIA” da Taba de Corumbê. Evento aberto e livre.
Domingo: 16/05/2010 - 15h00 ás 17h00
Local: TEATRO MUNICIPAL DE MAUÁ
Rua Gabriel Marques, n.º 353 - Centro – Mauá – SP
(Acesso também pela Avenida João Ramalho, 456.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

CONCEITO DE INSANIDADE







Insanidade é repetir as mesmas ações e esperar resultados diferentes.
Insanidade é revelar com veemência tudo o que é tão claro e nunca ser compreendido.
Insanidade é acordar todos os dias esperando por algo diferente e nunca fazer nada por isso.
Insanidade é crer que as pessoas um dia vão mudar. Elas nunca mudam.
Insanidade é ter fé na capacidade humana como fonte renovadora, criadora, racional.
O ser humano é insano por natureza, porque não é o que acredita ser, não faz o que se propõe a fazer, não renova, não cria, não raciocina.
Insano acreditar que isso seja humano.


PAM

CONCEITO DE INSANIDADE







Insanidade é repetir as mesmas ações e esperar resultados diferentes.
Insanidade é revelar com veemência tudo o que é tão claro e nunca ser compreendido.
Insanidade é acordar todos os dias esperando por algo diferente e nunca fazer nada por isso.
Insanidade é crer que as pessoas um dia vão mudar. Elas nunca mudam.
Insanidade é ter fé na capacidade humana como fonte renovadora, criadora, racional.
O ser humano é insano por natureza, porque não é o que acredita ser, não faz o que se propõe a fazer, não renova, não cria, não raciocina.
Insano acreditar que isso seja humano.


PAM

A FACE DO FOGO