domingo, 20 de novembro de 2011

CÍLIOS ELÉTRICOS




Eu devvia ter ido, eu devvia ter falado, devvia ter ouvido, devvia ter pedido, mas o silêncio é fodástiko meu bem. Eu vivo devvendo.  É. Devvendo, assim mesmo, com dois vvês e "fodástiko" que não existe (agora existe) com K que eu roubei do meu amigo.
De um lado a tara por orelhas, do outro, por cílios longos. Eu gosto de cílios longos, é como se fossem uma extensão dos olhos e do que vem de dentro deles e a possibilidade deles tocarem no meu rosto num beijo é maior, justamente pelo fator extensão. Essa sensação é única e é como se fosse um fio de eletricidade baixa na medida suficientemente certa pra transmitir tudo o que essa porra de silêncio fodástiko oculta.
Eu não devvia ter bebido, eu não devvia ter pegado a linha I07. Eu vivvo devvendo mesmo sem devver. Eu vviajo na maionese e acho que pirei de vez. Tô lelé, só pode.................. Tudo bem, sempre fui.
Eu não devvia ter indicado o "Delta de Vvênus"de Anais Nin. Aquilo foi praticamente um convite. O foda é que a cada fechada de olhos eu sei que se abre a cortina prum filme de ficção, em contrapartida os cílios continuam lá e ficam ainda mais expostos quando os olhos estão fechados e me dá uma vontade receosa e fudida de beijá-los.
Os cílios caídos, os olhos serrados e o inevitável suspiro que precede o silêncio. E eu, vviajando na maionese, personagem de filme de ficção sem legenda no final. Um caso. Perguntas respondidas com perguntas e um turbilhão de coisas perfurando os miolos a marretadas. Idiotice minha, porque a idiotice faz parte da minha vvida, sempre fez e eu não permito que ela saia a francesa, sempre a pego em flagra nessa tentativa e a puxo de vvolta pelo rabo. Isso faz parte também da minha idade mental de 12 anos (já evvoluí, elogia...) que não planeja, não arquiteta, não programa e embora isso possa parecer um defeito pra 90% das pessoas comuns, eu sinto orgulho, porque a minha inocência e espontaneidade pôde me trazer cílios longos, pôde me fazer sentir o choquinho deles.
Miragem, oásis, bobagem ou não. Só sei que foi bom. E que eu queria de novvo. Ou não?
Sim. Eu preciso e gosto de impulsos elétricos, mesmo que recheados de silêncios fodástikos.

Paula Miasato

domingo, 13 de novembro de 2011

É uma dor que dói.



Ultimamente está difícil esquecer que dói. O gás acabou, o feijão cru com bacon dentro da panela esperando "um gás", assim como eu.
Minha energia esses dias está como meu Mac, sempre na reserva. Me arrasto pelos cantos como se pesasse 200 quilos. 
Ultimamente está difícil esquecer que dói. 
As caixas empilhadas prontas pra mudança continuam na minha frente e toda vez que as olho me pergunto o porquê de levá-las. Há um mês estão lacradas e até agora não mexi em nenhuma delas, o que me leva a um questionamento profundo sobre a importância do recheio... Energia nenhuma para jogá-las fora. Continuam ali, no mesmo lugar,  lacradas e opacas. Meu espelho.
Ultimamente está difícil lembrar porque dói. Tenho motivos de sobra pra essa sensação maldita e memória nenhuma para lembrar os motivos. 
Ultimamente está difícil saber porque não deveria doer, afinal de contas sempre foi assim, todos temos nossas dores e eu não vou ficar aqui fazendo firulinha, quem sabe talvez um copo de vodka com chá gelado me ajudaria a lembrar, esquecer ou saber, sei lá. Talvez dormir ou escrever algo que preste ou descobrir o porquê da dor.
Quem hoje me viu teve a certeza que esta criatura que vos fala não consegue ficar sem sorrir. Sente dor, abraça, beija e sorri, fala merda, mas a dor, ela continua ali, grudada com super bonder bem lá dentro, esperando alguma coisa, não sei ao certo o que (se soubesse talvez já teria dando um jeito de vez na maldita) que a arranque de lá. 
Ultimamente está difícil esquecer que dói. É latente. Não estou mais conseguindo nem olhar nos olhos das pessoas. Me sinto tão transparente, tão frágil que o olho de alguém talvez me quebrasse em pedacinhos. Não me pergunte porque. Eu não sei. 
Eu queria estar em Vila Isabel, queria estar na pastelaria da Praça do Carmo, ou no bar que a vigilância sanitária fechou esses dias. É eu li no jornal. Está fechada. Como as caixas, como eu.
Eu fugi do Pondé, dos Rossetti, de quem me amava, mas cada vez que fecho os olhos posso ainda, mesmo assim ver a dor. E ela dói.
Os livros que leio hoje, os novos e os de sempre não tem cheiro. Percebo que uma vitrine nos separa de algo que eu não posso ou não devo absorver porque não há espaço, não mais.
Ultimamente está difícil entender porque dói tanto, embora talvez seja melhor assim. 
Eu sinto falta, saudade e nojo. Não há solução pra isso, é antagônico. Eu gosto e desgosto simultaneamente. Sentimentos epilépticos. To tentando entender, mas tá difícil.
Se eu deitar no seu colo, você faz cafuné na minha cabeça? Só pra eu tentar esquecer a dor... 
Tá difícil...
Putz, o feijão... Realidade maldita!

Paula Miasato

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Criança.




cala a boca
molha a minha
e me obedece.

não percebe
que suas flores
doces e vermelhas
são só botões?

toma a minha,
orvalhada, definida,
com a língua,
com os dedos,
com o pau.
Esta que não é tua.

Sorrio e lambo
seus joelhos calejados
e sangrados
pelo endeusamento.

Sorrio o gozo
de olhos abertos.
fumando um Djarum Black.


Paula Miasato

terça-feira, 1 de novembro de 2011

FAITH




Acendo o cigarro as 3 da manhã, horário que acordo de um pesadelo e perco o sono (rotina). Coincidentemente o horário em que nasci. Não sei porque acho que os cigarros me acalmarão, eles nunca me acalmam. Fumo porque gosto mesmo. Bobagem minha.
Ainda sinto a sede da ressaca. Não posso misturar bebida, não posso misturar as coisas. Devo ser organizada (dizia minha mãe), cada coisa no seu lugar, cada hora, cada instante, cada passo, nunca consigo (rotina). Ela também não conseguiu.
A casa empilhada de várias caixas com coisas dentro, prontas para a mudança (de novo), adoro mudar, mas dessa vez será pra sempre. Não gosto de coisas "eternas", gosto de mudanças. Mudanças de casa, mudanças de cor, mudanças de homens, mudanças de sentimentos, mudanças de olhares, de cheiros, de sabores. Não vou deixar que essa "casa eterna"eternize minhas outras mudanças, não vou. Caso isso viesse a acontecer seria como a morte e ainda estou viva.
Eu não espero que as coisas ou as pessoas permaneçam na minha vida. Seria muito chato. A bosta de se fazer 40 anos é que a gente se sente meio que na obrigação de tomar rumo na vida ou de estabelecer vínculos afetivos duradouros (a duras penas), o que pra mim não funciona. A gente se sente cobrada por ter um homem ao lado (não quero) porque uma mulher com essa idade já deveria tê-lo, "onde já se viu?".
O mais foda de tudo isso é que quando boto os pés no chão e mando todo o resto do mundo se foder por causa de suas ideologias baratas e sem originalidade, decidindo de vez então que não abro mão das minhas vontades nem da MINHA ideologia de vida, o mundo, astral ou seja lá que porra dão de nome a essas coisas, quem sabe "faith", do nada me aparece uma onda de mar surfista e me derruba no chão, engulo água salgada pelo nariz, o que faz meu cérebro arder e me perco, de novo. 
Seria teimosia minha? Certamente. Mas seria burrice minha abrir mão do que me faz bem? 
.............................................
Decido ficar sozinha. Gosto. Isso implica numa série de coisas que estão alinhadas com a tal gostosa e maquiavélica solidão. Meu corpo pede outro corpo. Que merda. (Cheiro de carne viva, suada).
Resistir a outro corpo faz parte da merda do aniversário de 40 anos (sou uma senhorinha agora).
Meu corpo pede outro. To indo pra 4.1.
Resisto, porque insistir é verbo pra no máximo até os 25.
Quanto mais resisto, mais o mar se rebela, afoga minha cabeça no mar e eu não consigo respirar. 
Acordo do pesadelo como se estivesse emergindo das águas salgadas, nariz sem sal, sem ardor no cérebro e vejo o mar calmo.
Não adianta. Foi o vinho. Bendito seja! Bebida dos deuses! Leves escoriações pelo corpo, digitais, sangue, cheiro, gosto e a sensação incomparável de satisfação pelo corpo invadido e violado sem luta ao som da música mais gostosa de se ouvir, o som do gozo. As estrelas ainda estão no céu. Testemunhas.
Os sete meses de endeusamento e insistentes investidas levadas na bota por causa dos meus quase 4.1 doeram. Uma dor gostosa. Gosto de gente decidida, insistente, afinal de contas, eu sou assim.
É... eu sou eu. E foda-se. 
Um dia, eu quase morri afogada. Hoje eu não morro mais.
Ele diz que tem certeza que é o destino. Eu não.

Paula Miasato