sexta-feira, 29 de abril de 2011

INVERNO




Não. Eu não quero olhar para as rolhas das garrafas de vinho secas. Meu sexo ainda está úmido, e ainda sinto o gosto das amendoas saboreadas com a última garrafa.
Olho no espelho e não me vejo. Vontade de mergulhar de cabeça, mas a batida é certeira e não vai me levar desta pra outra. Os cortes vão sangrar, sangrar até que eu seque. Não quero sentir dor.
A dor dói. É redundante, eu sei, mas como diz Bonassi em "Centro Nervoso", "Onde a dor dói?".
Hoje a dor dói na porra da reunião chata que nunca termina e que te impede de me telefonar. Dói na merda da chuva que te prendeu no transito, nos infindáveis compromissos de trabalho que nunca tem dia nem hora certa pra terminar, dói no silencio que tanto gosto, mas que hoje, só hoje, ou pelo menos hoje, só por um tempo mínimo eu não queria perto de mim.
Hoje a dor dói no peito afísico, na fenda aveludada, úmida e vazia.
Onde foi que te perdi?


Pam Orbacam

quinta-feira, 28 de abril de 2011

(obra: Dhiego Rocha)


quero fuçar teu corpo
teu mundo
teu segredo
quero fazer de voce minha
pele
perder você dentro de mim
me perder dentro de você.

voce fuçou meu corpo
invadiu meu mundo
descobriu meus segredos
sua pele grudou na minha
e agora é uma só.
me perdi dentro de ti
voce se perdeu dentro de mim...
de voce
e de nós dois.

(Anjo/Pam)



FOCO



Ah! A vódega que ficou em Ilha Bela... Só mesmo essa vódega me faria entender o porque de um dia tão intrigante...

Passo por trás da Cris pra pegar um café, justamente pra não passar por trás do Cassi, que se transforma no Incrível Hulk quando está de cara colada na tela do note (medo).

Com o copinho cheio na mão, passo de novo por trás da Cris, que estática revisa um texto. Tema principal do texto: cu.

Não resisto e colo nela. Tenho que admitir, a danada é muito boa. Que texto/comentário provocante sobre um simples monossílabo. Cu. Assim mesmo, cu sem acento.

Distribuo pirulitos de páscoa para o povo. Pirulitos de penis (reforço que o penis está sem acento porque ainda não consegui descobrir o circunflexo no Mac). Ninguém quis, apenas a Cris, que escreveu sobre cu, e a Su, que timidamente riu e disse que não ia comer, ia lamber... Bem, o que ela faria com o penis de chocolate dela era um problema/solução pessoal dela. Eu não presenciei o ato.

Enfim...

...

Após um dia como tantos outros, totalmente desorganizado, atrapalhado (por culpa minha, lógico) consigo ler o texto erótico do Simka, que apesar de erótico, interessante, não continha cu. Mesmo assim, a devolutiva ficou pra amanhã, mesmo porque quando é dia de curso do Flávio a biblioteca apresenta certo movimento, o que me deixa muito feliz.

Consegui dar uma fugida pro curso. Queria ver mais de perto as pessoas que havia lido na última madrugada de insonia. Textos muito bons, peculiares. Meu objetivo principal ali hoje era olhar pra elas, percebe-las, senti-las. Teria alcançado meu objetivo com total exito se não me distraísse com os comentários curiosos do Cassi sobre as falas do Flávio (sou meio homem neste sentido. Não consigo me concentrar em duas coisas ao mesmo tempo). Destruída minha concentração no meu foco principal da noite, desisto e decido pegar um café e fumar.

No piso inferior, Lu, Freire, Cris, Cassi e eu iniciamos um processo natural de aproximação. assunto principal e relaxante que provocou o clima descontraído e tão necessário no cotidiano de trabalho: por incrível que pareça... cu.

Foi muuuito bom! Foi bom demais ver todos ali, juntos, falando, opinando e rindo sobre o cu e suas funções, dividindo intimidades sem pudores, defendendo teses anais.

Meu dia começou com cu e terminou com cu. Foi lindo, gostoso e estou muito feliz.

Meu dia não foi um cu. Nunca na vida pensei que um cu faria tanta diferença na minha vida, como fez hoje.

O cu tem lá suas importancias, pensa o que...

Ah!!! Reencontrei Alba Brito linda de viver e Recebi Ro com um abraço desvirtual desta vez, mas esses são assuntos pra posts individuais, que farei questão de escrever.

Hoje foi um dia de estar com gente do bem, rever gente amada e de aproximações.

Bem... tá certo que meu foco principal da noite que era a aproximação e observação do grupo do curso foi totalmente destruído e acabou por me deixar meio down no caminho de volta pra casa, afinal de contas, mais uma vez não consegui cumprir com o programado, mas por outro lado, terei tempo de sobra para reler os textos dos alunos e num próximo encontro observá-los mais atentamente, desta vez, sentada bem longe do Cassi.

Cassi, isso não é nada pessoal, aliás, seus comentários são sempre pertinentes e interessantes e de fato, voce nem sabia dos meus planos maquiavélicos para a noite, mas preciso de concentração no foco. Quem sabe não te convenço a fazer isso comigo? Seria muito bom... Poderíamos fazer juntos. Ler, discutir e acompanhar de perto. Observar (sei que voce é bom nisso) e fazer um paralelo entre as pessoas e suas palavras. Essa era a minha intenção. Ler aqueles textos despertou em mim essa curiosidade... Uma curiosidade intensa de descobrir mais sobre o que há por trás daqueles textos.

Psicose? Sei lá! Pode até ser, mas sedenta e neurótica que sou por natureza, não consigo me conter.

Bem. As margaridas não encontrei durante o dia, mas a noite pude sentir o cheiro delas, além da confirmação de que realmente existem anjos sem asas.

Vamo que vamo!

Pam Orbacam.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

CLITÓRIS MALDITO



CLITÓRIS MALDITO
BEM QUISTO
ESQUISITO
DE GOSTO CÍTRICO
ENDURECIDO
UMEDECIDO E
EMUDECIDO.
QUAIS DEDOS,
QUAIS LÍNGUAS
NÃO LHE TRAZEM GRITOS?
CLITÓRIS MALDITO
POÇO DE PEDIDOS
NÃO ATENDIDOS.

Pam Orbacam
(imagem: desenho de Rodin)

terça-feira, 26 de abril de 2011

EU E MEUS FANTASMAS



Hoje foi um dia esquisito. Um dia cheio de sensações estranhas, de pensamentos mórbidos, de sexto sentido mais que apurado. Odeio quando acordo assim. Geralmente quando isso acontece (e acontece com frequencia) acabo por maltratar pessoas (as poucas) que amo, minhas atitudes não são minhas, talvez de meus fantasmas, eles sempre dão o ar da graça.
Enfim, o fato é que esse tal sexto sentido que brota dos meus fantasmas quase sempre aparece pra me deixar down, saturnina, e raramente contribuem positivamente no decorrer do dia, alías, acho mesmo é que esse sexto sentido só atrapalha. Mulher já é uma coisa muito complicada com cinco, pra que seis?
Daí acontece que fico na maior cobrança comigo mesma. Já faz quinze dias que me comprometi dar a devolutiva da análise dos textos do Cacá Paraíso por e-mail, isso depois de quase vinte dias tentando me concentrar na leitura, e ainda não concluí o combinado.
Já faz uma semana que tento ler o conto enviado pelo Simka pra desenvolvermos juntos o projeto sobre o qual conversamos. encontro com o cara todos os dias e fico com um ar de "ué " estampado no rosto, converso, desconverso e a coisa empaca.
Daí que aparecem mais duas propostas de projetos literários, tenho mil idéias, busco alternativas, recursos, as pessoas demonstram interesse em ver a coisa pronta contudo não se dispõem a colaborar e as devolutivas das análises de textos continuam ficando pra trás, isso sem levar em consideração os seis textos que o Guto me enviou e nem uma resposta automática de e-mail recebido encaminhei pra ele. E a blusa do Araújo? Nossa!!!! Um ano com a blusa do cara. Eu sou muito cara de pau, descuidada, mas não quero, tento, mas não consigo. Não é sacanagem da minha parte, definitivamente não sou uma pessoa sacana, apenas atrapalhada (muito).
Sinto minhas mãos algemadas. Só minhas "ANAS" invadem meus miolos armadas de facas, uma em cada mão, cuidadosamente amoladas, tentando fatiar meu cérebro. Elas conseguem, me consomem, e eu gosto disso.
As mulheres que vivem dentro de mim, todas elas, juntas me espremem contra a parede como mortos vivos querendo comer cérebro. Elas precisam ser alimentadas. Dou-lhes alimento cru, frio, insípido, justamente o que elas precisam.
Hoje eu senti cheiro de carniça. Isso também é normal em dias como hoje. Eu já devia ter me acostumado. Deve ter sido o pancadão que eu ouvi no tróleibus na ida ao trabalho. Adolescentes inúteis, fúteis, que precisam mostrar para os demais 60 passageiros que curtem um som totalmente idiota, além de sentirem necessidade extrema de falar alto com suas vozes desafinadas sobre assuntos que não interessam a ninguém, na verdade, nem a eles mesmos (um dia eles vão descobrir isso, espero...).
Bem, em contradição ao meu próprio discurso, peço desculpas aos que amo pelo desprezo e maus tratos do dia (eu sempre digo que é preciso pensar muito antes de fazer ou dizer merda pra que não seja preciso fazer uso de uma coisa tão brasileira como o pedido de desculpas), enfim, DESCULPEM-ME! Sei que um dia eu chego lá pra fazer juz ao meu discurso.
No fundo, eu sou do bem, meus fantasmas é que não são, e isso não é uma desculpa, apenas uma invisível, porém abstrata e concreta realidade (nossa! hoje to from hell...)
Cris, valeu por dividir a marmita comigo. Ando comendo mal, deve ser auto punição. Amanhã divido a minha contigo. Amo voce, embora como já lhe disse, não consigo processar todas as informações passadas por ti em tão pouco tempo.
Anjo, apresento-lhes meus fantasmas. Muito prazer, hoje voce conversou com eles, não comigo. Releve se possível, isso passa, sempre passa embora volte. Deve ser por isso que me amam ou me odeiam. Sabe aquela obra que gostou? O Colecionador? Aquela da janela? Pois é... Sou eu.
Já falei demais. Por hoje chega, que este post tá uma merda.
Amanhã é outro dia. Quem sabe vejo margaridas pelo caminho durante o dia e anjos sem asas a noite... Seria muito bom.
Que o inverno chegue o mais rápido possível para refrescar meus miolos.
That's it.

Pam Orbacam

Foi um momento



(Pra voce, anjo)

Foi um momento
O em que pousaste
Sobre o meu braço,
Num movimento
Mais de cansaço
Que pensamento,
A tua mão
E a retiraste.
Senti ou não?

Não sei. Mas lembro
E sinto ainda
Qualquer memória
Fixa e corpórea
Onde pousaste
A mão que teve
Qualquer sentido
Incompreendido,
Mas tão de leve!...

Tudo isto é nada,
Mas numa estrada
Como é a vida
Há uma coisa
Incompreendida...

Sei eu se quando
A tua mão
Senti pousando
Sobre o meu braço,
E um pouco, um pouco,
No coração,
Não houve um ritmo
Novo no espaço?

Como se tu,
Sem o querer,
Em mim tocasses
Para dizer
Qualquer mistério,
Súbito e etéreo,
Que nem soubesses
Que tinha ser.

Assim a brisa
Nos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz.

FERNANDO PESSOA

segunda-feira, 25 de abril de 2011

RITUAL




A moça, tal qual felino, estira as garras em sinal de ataque, mostra os dentes e rosna. Mostra ataque desprovido de deselegancia. Roça o corpo macio com suavidade, demonstrando desejo. Pede a mão com a cabeça, fecha os olhos ao cafuné recebido. Não tem pressa, esfrega o corpo insinuante em forma de pedido e espera pelo agrado.

Ronrona em sinal de prazer.

A moça, de pele branca, macia e cheirosa inicia o ritual. Uma dança provocante, úmida e quente.

Nega a saliva da boca desenhada e sorri, tudo a seu tempo. Crava as unhas e os dentes porque pode. Com sexo teso dentro dá prosseguimento ao ritual, que queima, eleva e provoca extase.

De olhos semi abertos continua a dança. Oferece a boca e gruda a pele. É recebida em transe. O ritual mágico provoca secreções, cantos e encantos.

A moça, tal qual felino, tem hálito morno, gestos sensuais e insinuantes que levam ao ápice.

Movimentos involuntários, sorriso e olhar terno revelam o final do ritual.

Aroma de café. Gosto de café. Sensação letárgica.

Tal qual felino, terminado o ritual, descrava as unhas e dentes e só, volta pra almofada.

Pam Orbacam.

segunda-feira, 18 de abril de 2011




"... O dia tem luz demais, prefiro a noite, onde meus olhos ficam muito abertos e as coisas fazem sentido. De noite é tudo como eu quero. Não tem dia no inferno. Não tem dia, não tem flor, não tem nada bonito. O inferno, querido, é o meu céu. O dia nao faz sentido. Sofrer faz sentido, dê cá meu chicote, ja que você nao tem coragem de bater."

Clarah Averbuck - Das Coisas escondidas atrás da estante

NARCISO




Inquieta
Voa a libélula
Insistente
sobre seu espelho.
Não ve,
apenas se ve
Aprecia a destreza
do bater de asas
Sem imaginar sequer
Que poderia
Se ousasse
Ser ousada
matar a sede
e banhar-se.


Pam Orbacam

domingo, 17 de abril de 2011

ENCONTROS E DESENCONTROS




Quando se diz que o mundo é pequeno, redondo e que nada acontece por acaso, de fato há razão pra isso.
Quando se diz que o tempo é o senhor do destino, só após ele passado temos a certeza da veracidade do ditado.
Cerca de dez anos se passaram e passados diversos desencontros, tivemos novamente o prazer de desfrutar momentos, dividir gentilezas, conversar sobre assuntos que o tempo não nos permitiu conversar devido as turbulencias vividas, ao avassalador ciúmes e paixão siameses.
Engraçado, hoje falamos mais devagar.
Estranho conseguimos ouvir um ao outro.
Bom que o tempo fez com que percebessemos o valor de cada um, fertilizando a cumplicidade incubada há anos.
O tempo é sábio, e mostrou isso ao ministrar nosso reencontro.
Foi realmente muito bom reencontrar voce, recordar momentos, trocar novidades. Nossa! São tantas! Nem conseguimos falar sobre tudo!
Enfim...
Te quero muito bem.
Agradeço ao tempo.

(Para Max Mathe Murray, a quem um dia chamei de bb e hoje tenho grande apreço)


SEXTA-FEIRA A NOITE




Sexta-feira à noite
os homens acariciam o clitóris das esposas
com dedos molhados de saliva.
O mesmo gesto com que todos os dias
contam dinheiro papéis documentos
e folheiam nas revistas
a vida dos seus ídolos.

Sexta-feira à noite
os homens penetram suas esposas
com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que todos os dias
enfiam o carro na garagem
o dedo no nariz
e metem a mão no bolso
para coçar o saco.

Sexta-feira à noite
os homens ressonam de borco
enquanto as mulheres no escuro
encaram seu destino
e sonham com o príncipe encantado.


MARINA COLASANTI

TATUAGEM INDÍGENA (Eu sou má... muito má...)




Bonita sua tatuagem...
Me disse isso, com olhos de alfinete, boca vermelha e carnuda. Tinha ciúme dele.
Obrigada. Fiz numa tribo indígena (lembrei da Clarah e ri por dentro), os Tucumã, no Acre (Afe!, não sei daonde tirei isso). Passei quatro meses lá. São pigmentos naturais, preparados na hora, retirados de sementes. Eles usam um palito afiado de uma árvore que naturalmente expele um líquido anestésico, como um leite. Adormece a pele e não dói. Só que depois de um dia o efeito passa, a pele incha, surgem feridas que sangram e minam leite e pus. Coça e dói por 10 dias, porém o resultado final é este.
Nossa! Que interessante! Já havia ouvido mesmo falar nessa técnica, mas nunca conheci alguém que tivesse tido coragem de fazer.
Como o povo é besta. Acredita em qualquer bobagem que voce fala. Basta fazer cara cult.
Subi as escadas e mal podia esperar para entrar na administração pra me esborrachar de rir.
Desci, peguei um café. Me rodeava feito urubu sobrevoando carniça.
Já tomou um?
Sim.
Quer água?
Não. Ah! Acho que vou tomar mais um cafezinho... Chegou pertinho de mim. Me olhava. Seria mesmo ciúme dele ou ela queria me comer?
Ele desce e diz pra mim em voz alta: Vamos comer pastel? Vamos!
Argh! Não! Se fosse cerveja iria. Pastel não. Óleo, sol, gordura... Bom apetite.
Ela o acompanhou até o pastel. Feição que misturava inconformismo com desejo (de mim ou dele?).
Sei lá. Sei que saí de lá rindo muito e com a sensação de missão do dia cumprida.


Pam Orbacam


sábado, 16 de abril de 2011




Debaixo do colchão do recém nascido, e mesmo na cama onde está a mãe, pôe-se uma tesoura de aço, aberta, para afungetar as Bruxas que vêm durante a noite sugar o sangue da criança.
É um costume de Portugal que se espalhou no Brasil. Há igualmente na Espanha, França, Bulgária, Romênia, Grécia, etc.
O aço amendronta os maus espíritos e fá-los fugir imediatamente de sua presença mágica.
A tesoura é, por vezes, substituída por uma faca, simples lâmina de aço, um pedaço de foice cegadeira, um punhal. O essencial é que o aço esteja à vista, a lâmina, desembainhada, ou a tesoura, de pontas abertas, em posição de cortar. As Bruxas, apavoradas, desaparecem como fumaça.
Para os espíritos malignos que andam à noite, as forças adversas, obscuras e poderosas, a lâmina de aço é um amuleto defensivo de poder irresistível.
A simplificação do uso, com o passar dos tempos, reduz a tesoura a uma única das pernas e a lâmina a uma agulha grande, de aço, reluzente. Bastará que a bruxa perceba um desses instrumentos, para deduzir que sua presença está sendo aguardada com uma recepção atrevida e feroz. E fugirá do alcance dessas ameaças. Daí, lógicamente, tornar-se suficiente uma tesoura, objeto caseiro, mas de possível agressão, uma lâmina de aço, isolada, para afastar a Bruxa.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Control Alt Del

Nossa! Hoje é um dia desses que, se eu pudesse deletar da minha vida em apenas um clique agradeceria a todos os deuses.
Dor. Dor de cabeça infernal. Não consigo abrir o olho, dói. Tento levantar de olhos fechados. Dói o pescoço, dói a cabeça. Desisto e deito.
Tenho que trabalhar. Tento de novo. Ai. Não dá. Abro os olhos. Um deles está grudado. deve ser conjuntivite, arde e sinto uma ameixa em calda banhada em areia na cara. Dói a cabeça, dói o pescoço. Merda! Não adianta usar melissinha nem tingir os cabelos super hiper mega pretos de loiro pra disfarçar... a idade está chegando e o tempo é inclemente.
Puta sol lá fora. Hoje entro as 10 e vou até as 20. Merda! Tenho que ir trabalhar. Não posso! vou contagiar todo mundo. Contagiar quem? Compartilho meus dias de trabalho com moscas e fantasmas.
Não dá. Vou ao médico. O que voce quer moça? Como assim o que eu quero? Estou num pronto socorro, quero ser atendida, porra! RG e carteirinha do convenio. Perdi a carteirinha. Infelizmente não podemos atende-la moça, sem a carteirinha não há como fazer a ficha.
Tá, tá, vou no posto de saúde. A cada passo uma fisgada na cabeça (excesso ou falta de fenobarbital?). Não consigo atravessar a rua, meu pescoço não mexe. Fui assim mesmo. U carro buzinou, mandei a merda.
Chego no posto. Um formigueiro. Pois não moça? Pois sim, dona moça, posso ser atendida? Cara de pirata, olho esquerdo aberto, direito fechado. Carteirinha do SUS por favor. POR FAVOR! Nossa! Bencão para os ouvidos. Essa eu não perdi. Tó, tá aqui.
Vou fazer sua ficha. Pode aguardar ali. Olho (com um olho só). Onde? Encostei na parede junto ao extintor que apesar de estar com apenas um olho já condenado por um possível glaucoma consigo ver que está com a validade vencida.
Trinta minutos depois a mocinha me chama. Assine aqui. Agora pode esperar lá do outro lado.
Tá.
Fui.
Após tres horas de espera, dor no olho, dor no pescoço e uma puta fome, abandono a parede cinza e vou embora, do mesmo jeito que cheguei, com dor, ameixa em calda na cara, pescoço duro, sem ser atendida.
Chego em casa, enfio guela abaixo tres neosaldinas, um diclofenato sódico e 20mg de diazepan pra dormir, esquecer da dor, da ameixa, do pescoço, dos meus quarenta anos e do encontro de hoje a noite, que a essa altura melou.
Dois eventos na Casa hoje a noite. O Cassiano não vai estar lá, pediu ajuda a mim e a Cris. Coitada da Cris. Desculpe Cassiano, desculpe Cris, não sou de deixar ninguém na mão, mas eu hoje to só o pó da rabiola e ainda vou sofrer desconto no pagamento por causa da merda de atendimento médico dessa porra de país, como se já não bastasse a precária proposta e condições de educação que os raros bons professores enfrentam no cotidiano, o que me enerva a cada feriado que chega e minha filha questiona o porque do feriado e quem foi Tiradentes... Aff.
Queria deletar esse dia da minha vida.


Pam Orbacam

quarta-feira, 13 de abril de 2011

TERMINAL



Eu imagino que através da vidraça o olho arda e queime exatamente tal qual arde e queima o meu, e que o frio que eu sinto da única camada de pele roçada e separada por ponteiros que teimam em tiquetaquear seja mascarado por uma mucosa morna temperada a alecrim.
A boca, cuidadosamente desenhada, umedeceu e emudeceu desejos distantes.
Teimo em sentar-me aos seus pés. Temo que beije meus pés.
Vejo meus fantasmas e seus demonios numa prosa doce.
A prosa terminal.

Pam Orbacam


domingo, 10 de abril de 2011

MÃE


(em memória de mamãe)

Preciso ir ao cemitério visitar sua avó... Disse, pensativa enquanto lustrava o chão da sala. Mexia os braços em movimentos vigorosos de vai e vem. É uma vergonha... a gente aqui ao lado do cemitério e não ir até lá visitar a vovó...
Continuou lustrando o chão. Tomou banho, passou batom, colocou o salto (sempre usava salto). era quarta feira. Toda quarta tinha horário marcado na manicure.
Vou fazer as unhas. Já volto.
Voltou.
Nossa! Coisa estranha! Acredita que a manicure passava o esmalte na minha unha e o esmalte escorria pros lados feito água? Eu heim... Tentou, tentou, aí o esmalte pegou. ficou bonito?
Vaidosa. Não lavava roupas. Papai pagava uma lavadeira. Não queria estragar as unhas.
Todo final de tarde tinha crises de asma. Tinha sempre na bolsa a bombinha. Colocava na boca, tragava duas vezes seguidas e a crise passava.
Naquela tarde não passou.
Foi enterrada de unhas feitas, no mesmo cemitério que a vovó.

Pam Orbacam.

Demonios




(Para André Orbacam)
Eu sinto muito.
Sinto muito por não ido até o fim. Sinto pela minha ausencia no momento, no seu momento.
Eu sinto muito, muito mesmo por estar sempre tão perto e ter fugido. Eu sempre fujo, voce que sempre me deteve, mas dessa vez não deu. Eu apenas fui, não deixei cartas, não deixei marcas, a não ser mágoas.
Eu sinto falta. Sinto falta da voz grave e sempre calma no meu ouvido pela manhã.
Eu sinto muito.
Eu sinto raiva. Sinto raiva por ter feito tudo sempre tão certo a ponto de dar errado.
Sinto vontade de escrever pra voce, mas hoje já não existe mais motivo, inspiração ou qualquer sopro de sua presença.
Às vezes acho que voce não existiu, apenas os seus demonios.

Pam Orbacam.

sábado, 9 de abril de 2011

Contos da Meia Noite - Dois corpos que caem

ESTETOSCÓPIO

Oculto,

em mim ausculto

um culto secreto

em meu peito.


Guilherme Salla


O PRIMEIRO FESTIVAL DIÁLOGOS COM A LITERATURA DA SERRA DA MANTIQUEIRA FOI UM BALDE DE ÁGUA LITERÁRIA NA MINHA CABEÇA, DE UMA VEZ SÓ. JOGADO PELAS COSTAS. SENTI ASSIM, MOLHADA, DEU FRIO E PARECE QUE ATÉ HOJE AINDA NÃO SEQUEI. GOSTOSO.

A SENSAÇÃO DE OVERDOSE CONTINUA PULSANDO NA VEIA E QUANDO LEIO A POESIA DE GUILHERME SALLA, O GOSTO DOS CALDOS QUENTES TOMADOS A NOITE NA SERRA ME VEM A BOCA, NA MEMÓRIA, AS CONVERSAS TABAGISTAS DA RODA DE FUMANTES.

HOJE O LINDO ESTETOSCÓPIO MÍOPE DE GUILHERME EMOLDURA MEU HUMILDE ESPAÇO.

AOS VIPS DO FESTIVAL, UM ESTALADO BEIJO SAUDOSO. QUE GRUPO DANADO DE BOM NÃO?

SERÁ QUE ESTE ANO SUBIREMOS A SERRA NOVAMENTE?

http://www.guisalla.wordpress.com

Um vício...

PAM






Pela fresta da janela
A luz do poste
ilumina o fio de alta tensão.
Na fresta da janela
A canga de praia
Dependurada
É lona de circo
A contornar o fio
Por onde pousa o equilibrista,
Passarinho que
Descanta na noite.
Descanta,
Desvoa.
Insone,
Imóvel e
Silente
Às estrelas
E segredos.

Pam Orbacam






sexta-feira, 8 de abril de 2011

Élio Camale - Caso

Eu digo Adeus





O tempo não para, já dizia Cazuza, mesmo entre tentativas frustradas de arrancar as pilhas do relógio de parede ou tirar da tomada o fio que ilusoriamente faz com que o tempo passe.
Quando o relógio para por natureza, por falta de folego (não encontro a merda do acento circunflexo nessa porra de teclado do Mac... Ah, como o Léo Nassif me faz falta nessas horas...) a idiotice humana (eu, nesse caso) o leva para fazer andar, para fazer passar, para mostrar de forma concreta que o tempo passa e que isso é visível aos olhos.
Então olhe para o ponteiro que pisa sobre os marcadores de segundos passo a passo, como se andasse em direção a uma encruzilhada e sofra. Sofra com o olho, com o ruído do tic tac e com as mudanças de hormonio (a merda do acento no Mac...).
Sinto fome, mas estou sem apetite. Hoje eu esqueci o fenobarbital. Neuronios a menos (merda de Mac) após tantas crises convulsivas.
A vizinha diz que é doença do demo. Foda-se a vizinha. Aliás, ela não fode.
Derrubei café amargo no meu chão de madeira. O cinzeiro lotado denuncia a noite insone. Eu tento arrumar a casa, mas não consigo, eu tento me arrumar, mas não consigo.
Queria ouvir o gemido de pele alva e fria, sem lembrar do tempo, inclemente, que me faz dizer adeus.

Pam Orbacam

Amor e inocência

quinta-feira, 7 de abril de 2011

CHEIRO





Confesso e afirmo que hoje acordei com o olfato apurado demais, fato esse que me causa estranhamento justamente pela minha deficiencia olfativa constante proveniente do excesso de fumo e substancias ilícitas consumidas há anos na juventude.
Saí de casa em direção ao trabalho. Droga! Esqueci a porra da fluoxetina. Por mais que eu tente manter regularidade e constancia nessa merda de vida eu não consigo. Caso, descaso, me apaixono tão facilmente quanto me desapaixono, tomo o fenobarbital e tomo cachaça de cambuci, entro no trabalho as 14 horas e chego em cima da hora quando não chego uma hora antes e fico vagando feito alma penada na Praça do Carmo. Esqueci a porra da fluoxetina. Pressinto que o dia será atípico... ou típico.
Tróleibus incrivelmente lotado as 13h14min. Por que tanta gente teima em andar pela cidade que fede a lixo?
Uma criatura levanta para descer no próximo ponto. Sento. O homem ao meu lado, um senhor já de certa idade, exala um cheiro insuportável de banho não tomado associado a roupa já usada por dias.
Tentei distrair a mente pensando em bobagens. Nossa! Preciso devolver a blusa do Araújo! Já faz um ano que ele gentilmente me emprestou seu jaquetão de frio e eu ainda não o devolvi... Puta sacanagem com o cara. Merda, esqueci a porra da fluoxetina...
Definitivamente é IMPOSSÍVEL ficar sentada ao lado do pobre senhor. Levanto. Um homem se acomoda ao meu lado dividindo comigo e com as bactérias o ferro onde todo mundo coloca a mão todos os dias na tentativa de não cair sentado no colo de outro passageiro numa provável freada brusca do motorista, que passa o dia a passar a flanela encardida e suada no rosto. Deve estar fedendo...
Além disso, o homem que divide comigo as bactérias do ferro está com o mesmo cheiro do pobre senhor que estava sentado ao meu lado.
Troco de lado. Tudo bem, eu exagerei um pouquinho no perfume hoje, foi uma apertada aflita no pininho do frasco, mas... Vá a merda! Custa tomar um banho e lavar as roupas?
Meu olfato amanheceu aguçado. Merda! Esqueci a porra da fluoxetina. Preciso beber uma gelada. Preciso colocar algodão no nariz.
O dia passou, como sempre passa. Algumas pessoas interessantes me visitam de vez em quando na biblioteca, mas hoje eu pude perceber o cheiro delas, inclusive as que não tem cheiro... nenhum.
A noite chega, O Marcelino chega. Eu sento no chão de madeira, abraço as pernas, sozinha, do lado de fora da sala do curso e tento participar isoladamente como ouvinte.
Um homem bem vestido, alto, peruca branca, olhos azuis pergunta pelo recital. Digo que já foi. Ele lamenta pelos belos olhos azuis que já não lhe permitem enxergar direito o horário no convite...
Sento isoladamente no chão de madeira, do lado de fora da sala, abraço as pernas, encosto o queixo no joelho e tento participar como ouvinte do curso do Marcelino.
Merda! esqueci a porra da fluoxetina... Merda! Ainda sinto o seu cheiro de carne alva e fria do dia anterior.


Pam Orbacam

quarta-feira, 6 de abril de 2011

GLACIAIS

Hoje eu acordei com uma vontade louca de te perder
de perder os sentidos
e rasgar da memória as cores do teu vestido
a tarde sombria que cobria de somente sobras
eu enxergava da fresta daquela janela

o horizonte passando na minha porta feito um bonde
a esperança estirada, morta,
no azul da amplidão

são frios e são glaciais, os ventos da solidão

a noite rosnava sinistra na minha cabeça
não é possível que você esqueça
da minha língua feito um cabide
onde penduravas a tua boca
e esse encantamento trágico te deixavas louca
eu te achava puta, santa,
e ambas me tiravam do chão

são frios e são glaciais, os ventos da solidão.

CILADA

CILADA
NA CURVA,
CILADA
PEGADA
GELADA
CILADA
MOLHADA
OLHADA
FALADA
OCULTA
SONHADA
TOADA
CALADA
CILADA.

Pam Orbacam