segunda-feira, 30 de maio de 2011

SONHO

(desenho: Romeo)


Fico pensando o quanto seria bom te-lo aqui agora, a pele morna não mais fria, ainda alva, as marcas eternas de tinta. Fico pensando, lembrando... A pele fina da sola do pé. Uma moça. Os gestos bruscos de bicho em ato de acasalamento, o olhar fixo a espera da resposta, a boca muda desenhada esperando o pedido e negando o beijo, a pele suada, o encaixe mais que perfeito.
Fico pensando. Fico lembrando...
As mãos cravadas nas ancas e a (in)certeza de que foi sonho.
Ainda sinto o cheiro da pele e o gosto do café.
O silêncio.
Foi sonho.
Foi?


Pam

domingo, 29 de maio de 2011

SCARPIN BRANCO




(um sentimento estranho.)

Te pego em frente a Igreja do Bonfim, daqui cinco minutos. Você de scarpin branco, calcinha branca (pequena), vestido branco, véu e um buquê de flores. Aceita? Estou levando o colar.
Ri. Quero ir para João Pessoa.
Eu quero ir para Maceió.
Quero ser feliz.
Quero tirar o relógio.
O telefone toca. Caralho! 23h30. Trabalho.
Não, essa mesa é por conta da casa. Leva para o lounge. As demais o licor é cortesia dependendo da consumação. Presta atenção! Não posso sair daí um só minuto? Rodelas de tomate da mesma cor, espessura e tamanho, já disse. Seu salário está alto demais...
Água com gás e vinho tinto seco, exatamente do jeito que gosto. O colar no pescoço. O scarpin... preto, a meia desfiada pelo relógio. É, está na hora de tirar o relógio...
Quero ir para João Pessoa.
Pretendo ir para Maceió. Daqui cinco anos tudo estará pronto. Maceió. Sem relógio, pés na areia. Uma pequena pousada com um restaurante personalizado, com meus pratos. Já tenho a equipe selecionada, de qualidade, de confiança. Quero estar lá com minha mulher.
O vinho desceu amargo, as taças e os planos não eram exatamente como imaginei.
Pressão.
Dúvida.
Pressa.
O almoço de domingo o esperava.
O salário do funcionário era alto demais.


Pam






sexta-feira, 27 de maio de 2011

IV FESTIVAL DA MANTIQUEIRA

Olá Mantiqueiros, mais um ano se passou e estamos novamente aquecidos para o Festival da Mantiqueira - Diálogos com a Literatura. Vamos nessa?

Nós do Letra Corrida (Fernanda e Letícia) e a Beatriz Galvão, do Bip Cultural, estaremos lá mais uma vez, pelo 4º ano consecultivo. Sei que tem bastante gente aqui que também irá pelo 4º ano. Clap, clap para todos. E também para aqueles que foram um ou duas ou três vezes. Não importa. Todos nós já fazemos parte da memória do evento.

PARTICIPEM, LEVEM SEUS MATERIAIS, SEUS TEXTOS, SUAS PALAVRAS, SUAS MÚSICAS, SUAS ARTES!

Antes da programação, só um informativo: Nós do Letra corrida + o Bip Cultural teremos novamente uma tenda.Com as seguintes atividades:

1. Sarau da Bê Galvão - levem seus textos! Vamos agitar a cidade!

2. Livro Gigante - A proposta interativa do ano é a criação de uma "prosa poética" colaborativa. Prosa ou conto ou tudo ao mesmo tempo. Para isso foi feito um livro gigante (tá não é tão grande assim, mas é bacana, passem na tenda e participem!)

3. Painel Diz-Quetes - Estaremos levando o painel de diz-quetes novamente, visto que muitas pessoas do grupo não encontraram ele perdido no meio de tantos eventos. Dessa vez não dá pra errar, hein?

4. Exposição de book-art

5. Zine Vestindo Outubros e livro Língua Crônica (vou fazer uma promô esperta pra vocês)

6. Varal de textos e poesias (levem seu material, vamos pendurar, vamos aproveitar e usar o espaço democraticamente!)

7. Livro de quem quiser levar, etc, etc, etc

8. Cházinho, Cachaça e água... Passem para um brinde!


PARTICIPEM, LEVEM SEUS MATERIAIS, SEUS TEXTOS, SUAS PALAVRAS, SUAS MÚSICAS, SUAS ARTES!

IV Festival da Mantiqueira – Diálogos com a Literatura

Programação completa: www.cultura.sp.gov.br

Data: 27, 28 e 29.05 (sexta, sábado e domingo)

Local: Praça Cônego Antonio Manzi, centro de São Francisco Xavier, distrito de São
José dos Campos (138 km de São Paulo e 59 km de São José dos Campos).

Capacidade das tendas:

- Principal: 500 lugares

- Estudantes: 300 lugares

- Photozofia Arte & Cozinha: 100 lugares (Lgo. São Sebastião, 105, Centro.
Tel. 12 3926-1406

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Ingressos:gratuitos (retirar senha para as mesas, atividades infantis e shows uma hora
antes do início das atividades na bilheteria do evento, na praça principal)

Como chegar: De São Paulo, siga para São José dos Campos pela Via Dutra BR-116 ou pela Rodovia
Carvalho Pinto SP-70. De São José dos Campos, o principal acesso é pela SP-50,
estrada velha de Campos do Jordão, até chegar à cidade de Monteiro Lobato. Siga
pela SJC-150, Estrada Vereador Pedro David até São Francisco Xavier.

Uma linha especial de ônibus de São José dos Campos a São Francisco Xavier vai levar o público
visitante ao evento. Saídas de hora em hora, do Parque da Cidade Roberto Burle
Marx - Av. Olívo Gomes, nº 100, bairro Santana.

Onde se hospedar e opções de passeios: www.sjc.sp.gov.br,
no canal “turista”

Programação completa

DATA

TEMA / Autores

LOCAL

Sexta
27.05

17h

Oficinas para estudantes e professores e bibliotecários:

com Elizabeth Ziani, Nelson de Oliveira e Maria Imaculada Sampaio.

EMEF Profª Mercedes Rachid Edwards e Espaço Cultural Sebastião Batista

20h

Abertura

Show Duo Siqueira Lima

Tenda principal

23h

Stand-up La Putanesca, baixarias de alto nível..., com Angela Dip

Photozofia

Sábado
28.05

9h

Oficinas para estudantes, professores e bibliotecários:

com Elizabeth Ziani, Nelson de Oliveira e Maria Imaculada Sampaio

EMEF Profª Mercedes Rachid Edwards e Espaço Cultural Sebastião Batista

11h

Falando de livros: Luiz Ruffato e Sérgio Sant’Anna

Tenda principal

11h30

Ilan Brenman

Tenda dos estudantes

12h

Atividade infantil: Contos de Fadas, com Kátia Canton

Biblioteca Solidária

13h

Orquestrinha São Xico

Coreto

14h

Atividade infantil: Livro Mágico, com Roberto Rocha Pombo

Biblioteca Solidária

15h

Conversando com Federico Andahazi

Tenda principal

15h30

Regina Zilberman

Tenda dos estudantes

17h30

Machos, Machistas, Fêmeas, Feministas:

com Marcia Tiburi e Xico Sá

Tenda principal

18h

Ivan Angelo

Tenda dos estudantes

19h

Anúncio dos finalistas do Prêmio São Paulo de Literatura 2011

Tenda principal

20h30

Canto Livro

Photozofia

22h

Show Lobão Elétrico

Palco principal

Domingo
29.05

9h

Oficinas para estudantes, professores e bibliotecários:

com Elizabeth Ziani, Nelson de Oliveira e Maria Imaculada Sampaio

EMEF Profª Mercedes Rachid Edwards e Espaço Cultural Sebastião Batista

10h

Orquestra Sinfônica de São José dos Campos

Palco principal

11h

Metrópoles e seus Personagens: Ignácio de Loyola Brandão e Márcio Souza

Tenda principal

11h30

Marcelo Carneiro da Cunha

Tenda dos estudantes

12h

Atividade infantil: Oficina de Rimas, com José Santos e Jonas de Matos

Biblioteca Solidária

14h

Conversando com Lobão

Tenda principal

14h

Atividade infantil: Fábulas de La Fontaine, com o Grupo Salada Mista

Biblioteca Solidária

14h30

Michel Laub

Tenda dos estudantes

16h

Bom-Mocismo:

Antonio Prata, Reinaldo Moraes e Luiz Felipe Pondé

Tenda principal

16h30

Flávia Muniz

Tenda dos estudantes

Assessoria de Imprensa

Luciana Branco – luciana@lucianabranco.com.br

Camilla
Mortean –
camilla@lucianabranco.com.br

segunda-feira, 23 de maio de 2011

PETIT GATEAU




“Se for só sexo para mim não interessa”. Uma das mãos puxou meu queixo. A outra espalmada sobre a cama escorava o peso do corpo.

“Ouviu?” Enfiou a língua teimosa dentro da minha boca, me tirando o fôlego e forçando minha mudez. Abriu minha caixinha de Pandora sem pedir licença. Odeio psicanalistas.

“Se for só sexo para mim não interessa”.

Com língua ou sem língua o silêncio seria inevitável.

Despenquei abaixo dos lençóis. O sexo duro cutucava a vagina e os miolos. Odeio consultores gastronômicos.

“Se for só sexo para mim não interessa”.

O peso do passado sobre minhas costas e sob outras costas. As incertezas, riscos e temores emergiam do náufrago romance submerso e esquecido há nove anos. Odeio Zeca Pagodinho.

“Se for só sexo para mim não interessa”.

Liguei o celular e me desliguei das secreções. Chamei um táxi.

“Mas sempre foi... Sempre foi só sexo.”

Adoro fluoxetina e petit gateau.


Pam Orbacam

sábado, 21 de maio de 2011

PÁSSAROS MORTOS




Acordei com o corpo todo dolorido, mal conseguia esticar os braços. Parecia que tinha puxado ferro o dia anterior inteiro. Devo ter sonhado, mas não me lembro. Devo ter tido uma noite péssima, um sono péssimo, não me lembro. Acordei olhando para o teto branco e ele estava tão branco como a minha cara e minha memória.
Uma paulada na cabeça. Três passarinhos mortos em uma mesma semana de fato não é normal. Essa anomalia no meu cotidiano me deixou intrigada. Após recolher o terceiro e colocá-lo no pé de uma àrvore pedindo a Oxossi que o acolhesse, assim como fiz com os demais, fiquei pensando o que estaria acontecendo com os passarinhos, se Deus queria ouvir o canto mais de perto, se ele me podou seus cantos ou se aquilo era um aviso.
Me questionei tambem o porquê de passar essa semana toda andando de cabeça baixa, olhando para o chão, (por isso vi os passarinhos mortos) coisa que nunca faço, prova disso são os sapatos descascados no bico devido aos tropeços constantes nas calçadas mal conservadas de Santo André.
Um pé na bunda. Nada que eu não estivesse acostumada, o que não significa que não me deixou abatida.
A porra da solidão. A beleza crua e viscosa da solidão. Silêncio é bom, solidão não.
A boca amarrando como quem come banana verde. O catarro no peito já condenado. A doutora já havia dito várias vezes: seu pulmão, querida, está com a função comprometida, precisa parar de fumar. Isso como se o ar de São Paulo não comprometesse a função pulmonar de todo mundo, inclusive a dela. Aliás, a função principal de todo pneumologista é fazer a trupe fumante parar de fumar. Perda de tempo.
A porrada na cara. Espero demais das pessoas. Minha simpatia incomoda, sempre incomodou e toda vez que levo porrada prometo a mim mesma que vou mudar, mas nunca consigo. Deixa para lá.
A teimosia sempre me acompanhou desde pequena.
Nossa! Meus braços doem como nunca... As costas, bem no meio...
Hoje eu chorei. Fiz bico e chorei, que nem criança. Fazia tempo que eu não fazia isso. O lábio inferior tremendo tentando apoiar o cigarro mentolado, o delineador borrado, o rosto molhado. Sol a pino. Um frio que não é meu percorrendo pelo corpo. Já tenho tanta cicatriz que fiquei meio insensível. Mas hoje não. Hoje eu chorei.
Na barraquinha da feira livre da Praça do Carmo comprei cinco livros. Fui lá para comprar um, mas comprei cinco. Dois deles para presente. Um eu já dei, mas a pessoa nem ligou, nem leu a dedicatória.
Aprendi que vodka com chá gelado é muito bom. Aprendi lendo “A Mulher Só” de Harold Robbins: “ É terrível quando se é mulher orientada para a ‘realização’. Por mais alto que seja o preço que se pague, está-se sempre sozinha quando se chega a qualquer lugar – e de uma forma que nenhum homem jamais terá de ficar.” (Phyllis Chesler, Women and Madness).
Sinto o corpo dolorido e anestesiado. O mesmo sentimento do personagem anônimo de Nilo Oliveira em “Pornografia Pessoal (de um ilusionista fracassado) no conto “Carta de amor (pra acabar de vez com a tua admiração): “Te desejo boa sorte: é bem mais do que eu pude ter. Em nome da nossa velha amizade. Em nome deste mal venéreo que – por ocasião dos meus porres – ainda insisto em xingar de meu amor.”.
Eu sempre estrago tudo. Tenho o dom de estragar tudo, mesmo quando não quero, mesmo sendo honesta, mesmo sendo eu mesma (e talvez seja esse o meu problema), mesmo quando me calo. A vontade filha da puta de ter você e as mãos amarradas, boca tapada e entupida de beijos guardados, palavras não ditas.
Ouvido escancarado para ouvir os vomitos gosmentos que o egoísmo, inveja e desrespeito escorregam martelo, bigorna e estribo:
“Todo mundo quer te comer, NE ?”
“Um dia ainda te dou uma resposta que você não vai gostar...”
“Hello! Ei Pam! Tem alguém aí? Acorda pro mundo! Não acredito que você pensa assim, que vive em mundinho de conto de fadas.”
“Que fique bem claro que foi você quem quis dessa forma. Combinamos de não cobrar nada um do outro.”
“O seu grande erro foi se apaixonar. Eu já estou acostumado a lidar com isso.”
PORRA!!!
Será que é tão difícil assim respeitar o ponto de vista dos outros? Será mesmo tão difícil assim acreditar que eu não me aproximo das pessoas por interesse? Por que é difícil acreditar em mim? Porque todo mundo mente? Isso não é um problema meu.
Saudade da minha psiquiatra que quando eu aparecia com essas milongas doloridas e líricas me mandava tomar uma dose de uísque, trepar e depois fumar um cigarrinho. Ela dizia que isso era melhor que fluoxetina com morfina.
O mundo é um lugar onde não cabe a minha inocência, pureza e alegria. Ele não comporta o meu amor (olha a porra do lirismo aí de novo...)
Preciso chorar mais. Mas agora não dá. Tenho que adiar o meu choro para mais tarde, no MEU mundinho lá de casa, escondida, protegida.
Preciso chorar mais.
Preciso chorar.
Preciso chorar para amanhã acordar feliz de novo.



Pam Orbacam.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

QUERO SER LAGARTIXA






Cheguei a conclusão de que tudo o que eu sempre procurei esteve o tempo todo dentro de mim. Inexplicavelmente invisível aos meus olhos, hoje enxergo com tanta clareza que me assusto, não obstante me agarre com tanta força, tristemente percebo que tudo escorrega pelas minhas mãos feito quiabo fatiado. Ser humano é algo muito limitado. preferia ser uma lagartixa, que tem aqueles lances lá nas mãozinhas que grudam na parede como desentupidor de pia e não desgrudam nem a pau. Ter um rabinho desconectável também seria muito útil. Fingir de morta, soltar o rabinho saltitante para enganar o predador e com o tempo ganhar outro novinho.
Na próxima encarnação quero nascer lagartixa.


PAM ORBACAM

quarta-feira, 18 de maio de 2011

DE OLHOS FECHADOS

(Klimt)


Ao fechar os olhos posso perfeitamente rever a cena. Ela com o vestido velho e desbotado pelos anos de uso, semi curto, mais curto ainda agora por causa da barriga redonda e pontuda que carregava e acolhia parte de mim, deixado lá no ato do amor.
Engraçado como a gravidez ilumina uma mulher. Ela lá, o mesmo vestido de solteira agora sem cor envolvia e delineava quem estava por vir. Encostava a barriga no beiral da pia enquanto picava a cebola do feijão. Nos pés, pantufas cor de rosa, em uma das mãos a cebola, na outra a faca. Os olhos piscavam e lacrimejavam freneticamente com o tempero.
Eu sentado em uma das cadeiras disfarçava em frente ao note que lia os e-mails enquanto aguardava o jantar, mas olhava mesmo era para ela, linda, cada vez mais linda, cada vez mais minha, me carregando dentro de si.
Hora e meia ela voltava o olhar para mim e sorria com os olhos chorosos de cebola, as mãos empanadas com seus pedacinhos. Achava aquilo lindo.
Sempre que pegava a colher de pau para refogar a cebola chegava em mim, aproximava o rosto do meu dependurando a barriga e empinando o bumbum, olhava a tela do note e dizia com voz dengosa: Já está terminando? Queria que lavasse o alface para mim, não gosto daquelas larvinhas que as vezes vem no pé... Lava? Fazia isso premeditadamente porque sabia que eu adorava ve-la com a colher de pau na mão esfregando " despropositalmente" a barriga no meu braço e arremessando o bumbum para trás. Isso me deixava encantado e ao mesmo tempo tarado. A danada sabia disso, era ligeira, me conhecia melhor que a si mesma. Sabia exatamente qual seria a minha reação.
Fechava o note, beijava a sua barriga de olhos serrados, voltava o olhar para ela, inevitavelmente sorria enquanto afundava a mão por entre suas coxas até apertar uma das nádegas como as velhas fazem em feiras livres com as frutas, para ver se estão boas para consumo. O cheiro da cebola fritando sozinha na panela e ela de olhos fechados sorrindo, mostrava por entre a boca semi aberta a língua rosa. O punho amolecia e os dedos flácidos deixavam a colher de pau cair no chão e eu a possuía com tesão amor e pantufas. Nunca usava calcinha, era tão bom... aquela vagina arejada e úmida a minha espera nunca dizia não.
O bebe nasceu, mas levou a cebola, a colher de pau e o vestido velho desbotado.
Toda vez que olho para a pia e a vejo sem tempero, fecho os olhos e posso rever a cena.
Até sinto o cheiro da cebola queimando. É um silencio aromático, nostálgico.
Sempre sorrio de olhos fechados.


Pam Orbacam.