domingo, 3 de julho de 2011



OS LENCÓIS
SOBRE AS JANELAS.

VÉUS ALADOS.

BAILAM PELA FRESTA
E ASSOPRAM
A CAMA.

EU:
SOB O CÉU
DOS SEUS OLHOS AZUIS.

Pam

JANELAS



Praça do Carmo destino casa.
Coletivo. Acidentalmente a minha frente o banco que ninguém gosta de sentar inclusive eu, aquele que dá as costas para o motorista. Sentei. Nunca sento nele, nesse dia sentei.
Início de trajeto no retorno a casa, em movimento a velocidade gradativamente aumenta e pelas janelas, apesar da escuridão da noite que já me olhava, pude ver tudo ao meu redor lá fora indo embora, ficando pra trás e eu voltando (pra casa ou no tempo?). 
As luzes dos postes se apagavam ao passar pelas janelas e tudo o mais que eu via lá do lado de fora parecia passar não mais existir após passar pelas janelas. Eu não seguia meu rumo natural, sentia minha alma sendo tirada de mim pela boca, arrancada do estômago, as palavras e os textos perdidos chacoalhavam na cabeça e eu voltava, não pra casa, no tempo.
Sentia minha pele esticando, meu cabelo pretejando, me vi grávida, me vi criança, senti o útero da minha mãe quente e úmido mas a sensação era de desproteção, de vulnerabilidade, de despejo.
Estava voltando pra casa. Estava voltando no tempo, num tempo frio, escuro e vazio. Me desconstruí em instantes.
A música de Thiago Petit na cabeça na voz de minha menina que ontem a cantarolava em casa. Disse ela que conhecia a música não sabia daonde.
Estava voltando no tempo e tudo o que acumulei em mim durante quarenta anos de desmantelou tijolo por tijolo a cada metro percorrido pelo coletivo.
Histórias, contos, poemas voaram janela afora e com a alma e corpo vazios desci. Parada Parque das Nações.
Crua, joelhos desparafusados, caminhei até minha redoma, meu santuário e dormi sem nada. 
Oca.

Pam