sábado, 7 de novembro de 2009

O CORDEL ESTRADEIRO







A bença Manoel Xudu

O meu cordel estradeiro

Vem lhe pedir permissão

Pra se tornar verdadeiro



Pra se tornar mensageiro

Da força do teu trovão

E as asas da tanajura

Fazer voar o sertão



Meu moxotó coroado

De xiquexique facheiro

Onde a cascavel cochila

Na boca do cangaceiro



Eu também sou cangaceiro

E o meu cordel estradeiro

É cascavel poderosa

É chuva que cai maneira

Aguando a terra quente

Erguendo um véu de poeira

Deixando a tarde cheirosa



É planta que cobre o chão

Na primeira trovoada

A noite que desce fria

Depois da tarde molhada



É seca desesperada

Rasgando o bucho do chão



É inverno e é verão



É canção de lavadeira

Peixeira de Lampião

As luzes do vaga-lume

Alpendre de casarão

A cuia do velho cego

Terreiro de amarração

O ramo da rezadeira

O banzo de fim de feira

Janela de caminhão



Vocês que estão no palácio

Venham ouvir meu pobre pinho

Não tem o cheiro do vinho

Das uvas frescas do Lácio

Mas tem a cor de Inácio

Da serra da Catingueira

Um cantador de primeira

Que nunca foi numa escola*



Pois meu verso é feito a foice

Do cassaco cortar cana

Sendo de cima pra baixo

Tanto corta como espana

Sendo de baixo pra cima

Voa do cabo e se dana**

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