segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

CICLO





Minha irmã tem "frases de épocas". Cada tempo ela aparece com uma frase, que é a frase da fase em que está passando.
A frase dela desta época é: "Tudo tem um ciclo".
E eis o ciclo. Parece praga. Há tempos havia apagado da memória o prazer e o desgosto de um copo de destilado, teclado e cigarros.
Como o ser humano é vulnerável.
Estou só, apenas na companhia do álcool, cigarro e teclado, da mesma forma como abri o meu primeiro blog.
Diversas vezes excluí contas e blogs e hoje estou aqui, escrevendo no meu enézimo blog, ao lado de um destilado 12 anos e cigarros, assim como no início...
É como se o tempo não passasse, mas eu o vejo nas pregas do rosto. Ele passa.
Meus seios já não são mais os mesmos, mas minha sede por vida é tão grande quanto pela morte.
Meu relógio é o gelo que derrete no copo. É a prova que o tempo passa e que o ciclo está aí.
Odeio ter que concordar com minha irmã, mas a frase da época faz sentido. Volto a passar a virada de ano sozinha. Chove. O som das goteiras é grotesco, dói no ouvido.
Bebo, fumo, escrevo e continuo não conseguindo escrever por encomenda. Meu próximo tema é "lembrança", e o prazo máximo é dia 04 de janeiro.
A arte é alimento e tortura. Eu quero, mas o gelo derrete. O tempo passa e eu volto a beber, fumar e escrever, mas não sob encomenda. Coloco gelo no copo, mas ele derrete.
Planejo, nao concretizo. Prometo, não cumpro.
Não lembro, o passado esfrega seu corpo rude na minha cara dizendo: "é um ciclo".
Como ainda posso estar aqui? Que tédio reviver tudo o que foi vivido!
Consolo? A garrafa de vinho ainda não aberta e a esperança de que haja cigarros no bar mais próximo.


PAM ORBACAM

Um comentário:

Edson Bueno de Camargo disse...

"o passado esfrega seu corpo rude na minha cara"

muito bom isto