domingo, 3 de janeiro de 2010

CRUCIFICAÇÃO




Mais um ano novo, de novo. Lembro-me nitidamente que quando criança eu lia os gibis da Luluzinha (que ainda não era teen...) ela tinha duas páginas bem no meio do gibi que era o "diário de Lulu". Nesse diário,todo início de ano Lulu fazia uma lista: a lista de resoluções para o novo ano.
Eu, como também não era teen, habituei-me a fazer essa lista todo ano novo, de novo.
Com o passar do tempo, percebi que a lista se repetia, ou seja,era inútil que eu me planejasse, me organizasse e me comprometesse a cumprir metas, pois eu sempre falia.
Deixei de fazer a lista e deixei também de ler o gibi da Luluzinha.
Hoje noto que o tempo "me viveu", não vivi o tempo. O tempo me engoliu, sem saliva nem dó, a seco.
Planejar é coisa para professor, organizar é coisa para bibliotecário e cumprir metas é coisa de quem não se alimenta, vira alimento.
Comida de tempo sem saliva nem mastigação, hoje se eu fizesse a minha lista de resoluções para o novo ano ela seria terminantemente igual aquela que fiz quando tinha oito anos, com algumas alterações relativas à idade, como:
- parar de beber tomando gardenal e diazepan (todo ano eu volto).
- parar de fumar (já até tentei, agora aspiro remédios que me fazem esquecer da asma para poder "fumar mais um")
- nunca mais arrumar um homem (que merda! Só me aparece merda e eu continuo tentando...),
...e por aí afora...
Alguns diriam que eu sou mesmo uma retardada mental (assim como minha psiquiatra: delicaaaaaaaada...), outros diriam que sou mesmo um asno, alguns outros me taxariam de teimosa (persistente ficaria mais bonito), mas como eu não estou nem aí para o que você ou outrem digam, foda-se a porra da lista de resoluções do novo ano, as metas, a vida saudável, o provável ataque cardíaco e também a abstinência sexual.
Não nasci para cumprir metas nem ter a ilusão de que estou mais saudável vivendo sem fumar nessa maldita capital poluída. Muito menos me preocupar com a longevidade, se sei que não terei um marido perfeito ao meu lado para lavar minha bunda quando eu tiver 97 anos e estiver gagá numa cama acumulando banha sem poder cagar sozinha.
Prefiro a ressaca do álcool no dia seguinte, meu admirável filtrinho branco e a doce sensação pós orgásmica, (não necessariamente nessa ordem), que seja por quarenta anos.
Crucifiquem-me! Atirem pedras e cuspam em mim. Sinto prazer.
Nada como beber um uísque doze anos ouvindo as pedrinhas de gelo estalarem, dar uma "bem dada", fumar um cigarrinho e depois dormir de conchinha, nua e molhada de gozo.
Passar a noite escura em claro e fechar os olhos para o sol que teima em nos fazer acreditar que estamos vivos.
Já nascemos podres, e a cada dia que passa morremos mais um dia.
Que seja fulgás meu Deus. Acredito na sua benevolência.
Crucifiquem-me. Não sou a Lulu, nunca fui teen.

PAM ORBACAM

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