sábado, 9 de janeiro de 2010

GENTE, O QUE É ISSO?




Resolvi tentar novamente. E fui. Impossível que somente eu não conseguisse conviver com outras pessoas. Resolvi fazer uma última tentativa.


Cheguei.

Gente andando, gente parada (no meio do caminho, o que me irrita profundamente), gente comprando bebida, gente bebendo, gente falando, gente a procura de gente.

Saí. Lá fora, gente fumando, mas havia um ventinho bom que permitia que eu não me sentisse sufocada por tanta gente. Isso aliviou um pouco a minha inquietação. Não é o cigarro que incomoda, mas o cheiro de gente.

Entrei. Gente andando, gente parada, gente bebendo, gente procurando por gente, gente sem gente, gente conversando com gente, esguichos de saliva saindo da boca e grudando no rosto de quem ouve, acertando em cheio o olho esquerdo do ouvinte que num reflexo pisca e ri achando graça da sua própria desgraça, isso quando não entra diretamente na boca aberta do próprio, resultando numa troca não voluntária de fluídos corporais.

Continuei andando. Gente encostada em gente, gente esbarrando em mim, olhando pra mim, suando um suor disfarçado de perfume passado por cima do corpo sem banho.

Cheiro de gente impregnado no ar. Hálitos, suores, puns e arrotos alcoólicos. Bocas abertas falando, gargalhando ou bebendo. Uma nuvem de bactérias como naqueles balões das histórias em quadrinhos.

Gente a procura de gente pra tentar amenizar a solidão. Gente a procura de gente pra espirrar saliva. Gente procurando gente para esparramar seu fedor sudoríparo disfarçado de perfume barato.

Gente, o que é isso?

Comprei uma cerveja e fui embora.

 
 
PAM ORBACAM

Um comentário:

Edson Bueno de Camargo disse...

Ai de mim que sou um animal urbano, mas detesto multidões.
Nada que remeta ao meu anonimato ou de outrem é agradável.