sexta-feira, 23 de abril de 2010

Intimidade



As luzes permanecem apagadas, o cigarro aceso e o reflexo do mundo estampado na parede da sala através da janela. É como se o mundo alí fora fosse como um teatro de sombras, revestido de pano, separado de mim.
É assim que eu gosto. O mundo alí fora e eu aqui dentro, inalando a fumaça do cigarro que me mata aos poucos, prazerosamente (duo).
Minha gata (como todos os gatos) é extremamente noturna, assim como eu. Ela cuida de seus filhotes e entre uma amamentação e outra brinca no escuro. Eu ouço os ruídos.
Ela não se importa com a fumaça do cigarro (nem eu), ela respeita meu vício e é conivente com meu vampirismo.
As pessoas do mundo lá de fora não fazem falta. Elas são barulhentas e adoram sol. Eu prefiro a companhia da noite e sua eterna cúmplice, o silêncio.
Minha filha quando me vê assim, sozinha no escuro com a cara iluminada pela tela do computador diz que eu pareço um fantasma. Talvez eu seja mesmo. Talvez ela veja todos os meus fantasmas e acho que é isso que a assusta.
Eu me dou bem com eles. Eles gostam de mim, e eu deles. Nenhum de nós gosta de ser incomodado, e é assim que deve ser.
Acendo cigarros para iluminar e alimentar a alma.
Se acheguem às vacas gordas. Minha net, minha noite, meu silêncio, meus fantasmas e meus infindáveis cigarros estão de volta.

Pam

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