sábado, 8 de maio de 2010

CARTA DE DOR À UM AMOR DISTANTE





Não. Os meus cabelos brancos já não revelam o tempo que passou. Eu não passo horas em frente ao espelho a arrancá-los fio a fio na intenção idiota de mascarar a dor que os deixou sem pigmento.
Sim, os vincos no rosto são cicatrizes dessa maldita dor e eu já não me importo em alisá-los.
O pijama que insiste em ficar no corpo desde a hora em que abri os olhos hoje cedo cheira mal, não me importo.
Sim, os olhos abriram novamente hoje pela "manhã" (14h35). Abriram para enxergar novamente a verdade que se esfrega na minha cara como lixa de concreto todos os dias dizendo "bom dia"!
A cabeça já não pensa mais. Olho bem de frente para a maldita e digo "bom dia".
Maldita hora, maldita decisão. Maldita seja!
Sem acalentos para os ouvidos, sigo.
Verdades, inverdades, futilidades, grande incógnita porque tanto faz, minha dor é só minha e isso é o que está em jogo, "onde a dor dói"...
Hoje (não como antes) eu não queria ter vinte anos a menos, como dizia. Vinte anos me fariam muita falta, como fazem para você.
Dos anos de convivência aceitei ser preterida, no momento da decisão também fui preterida. Preterida a coisas impalpáveis, preterida a presenças odiadas, preterida a tua preferência.
Desisti e prefiri lhe deixar sozinho com suas escolhas.
Não sinto inveja da tua vontade de viver, nem das coisas fúteis, ilusórias e passageiras que você insiste em viver. O único ponto crucial e real nesta história (o que é uma grande merda) é que suas escolhas, sua ilusão de vida, de amizade e de amor faz ponto de encruzilhada com a minha dor.
Perdi muito. Perdi tempo, investimento, dedicação. Ganhei muito, obrigada. Muita mentira, dor, desconsideração e dissimulação.
As vagabundas não perdem nem ganham, mas também não as invejo, afinal, são vagabundas, não servem para nada além de uma noite de sexo animal que as fazem acreditar em um poder que elas não têm. Quem gostaria de envelhecer ao lado de uma delas? ("Sinto uma inveja brutal dos cafajestes? Que entre cervejas descrevem o diâmetro dos orifícios melados?")
Você é hiena entre leões e carne morta.
Insista. O tempo passa. Minha dor também vai passar, mas a tua chegará depois da ida da minha. Aí você vai ver "onde a dor dói", depois de fatigar na luta pela carne morta, perder para os leões e agradecer pela carniça.
De nada, de nada. Eu sei lhe avisei. Isso passa.
Há gosto amargo na boca? É dor.
Deguste.


Pam

Fotografia: Rodrigo Acosta

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