sábado, 8 de maio de 2010

VAGALUMES







Engraçado como minhas recordações de infância são nítidas. Minha memória apagou registros de adolescência e fase adulta, aliás, às vezes nem consigo me lembrar de coisas que conversei há um dia atrás, mas minha infância é tão clara na memoria que dá até medo.
Conheço gente que não se lembra de coisas que fez na infância. Eu muito pelo contrário.
Me lembro como hoje de minha casa em rua de terra vermelha e a visão pela janela principal de um grande matagal, que durante o inverno amanhecia coberto de gelo, branquinho branquinho... Na primavera era coberto por flores amarelas e "barba de bode", e a noite, trazia para dentro de casa insetos enormes. Grilos e aranhas pernudas invadiam o quarto e eu corria atrás de papai para matar os bichinhos.
Papai nos levava em noites de verão pra meio do matagal. A gente via através da janela o mato todo piscando, parecendo árvore de natal enfeitada. Vagalumes!
E lá íamos "caçar" vagalumes. Acontecia de tudo, a gente pisava em merda de cachorro, atolava o pé na lama, caía, porque não dava pra ver nada naquela escuridão, mas levantava e depois de tanto sufoco, correria e gargalhada alguém aparecia com um vagalume entre as duas mãos fechadas. Dava pra ver a bundinha dele piscando lá dentro.
Então a aventura prosseguia: o próximo passo era conseguir pegar o bichinho de um jeito que ele não fosse machucado e esfregar a bundinha dele na camiseta.
Uau! Dava pra escrever com a bundinha dele e o mais bacana de tudo é que a escrita ficava fluorescente! Massa!
Aí a gente soltava o pobrezinho e ele voltava pro meio do mato. A gente? voltava pra casa toda orgulhosa da camiseta fluorescente, corria pra mamãe e mostrava. Ela ria, entre uma fritada de ovo e outra.
Após o diário sermão de "vamos escovar os dentes",íamos pra cama.
Passávamos a noite toda sem conseguir dormir de tanta coceira nas pernas por causa do mato mas felizes da vida, e guardávamos a camiseta bem escondidinha da mamãe pra que ela não encontrasse e lavasse, porque a gente queria ir pra escola no dia seguinte com ela, pra mostrar para os amigos.
Eita vida boa!
Não existia trufa, e brigadeiro só em festa de aniversário de amigos (coisa rara), mas a gente era muito feliz.
Sinto saudade daquela falta de responsabilidade que não fazia mal pra ninguém...
Hoje, embora eu coma trufas eu não vejo vagalumes.


Pam

Nenhum comentário: