Cortaram a minha luz. E eu, que deleitava minha paz trancada a sete chaves a sós comigo mesma, sem som, sem sol, sem luz, tive que sair correndo para pagar uma conta que não chegou e não me dei conta. A realidade mostrou a cara e a língua e lá fui eu.
Saí debaixo de sol, óculos escuros, cabelo cobrindo a cara e torcendo para que o tempo fosse suficente para o infeliz que cortou meus fios voltasse para religá-los.
Idiota.
Paguei a conta que não chegou e telefonei para a eletropaulo. Corri para a tomada da cozinha para conectar meu celular, pois a bateria estava por um fio, apitando. Idiota EU. Conectei e fiquei tranquila. Como? Se a energia foi cortada?
A gente é mesmo muito dependente da modernidade. Quisera eu poder arremessar meu celular pela janela, as duas tvs, e sentir paz ao ver o IDIOTA cortar a energia da minha casa.
Deu tempo, pagando quase 37 reais pelo religue de emergência. Mais uma noite de trabalho no forró risca faca gasta assim, em cinco mintos.
Não tem problema. Depois de ontem a noite, nada mais tem problema. Depois de cutucadas as feridas quase que cicatrizadas em uma conversa virtual a dois, ainda sinto dor, no peito, na alma.
Escondo minhas feridas. Mas tem gente que as encontra e cutuca, cutuca, cutuca até sangrar.
Sangrou de novo. Tudo bem. Passa, sempre passa, mas cansa. Não tenho mais paciência para tanto nem pouco. Não tenho paciência para convívio, não me importo com sorrisos, não me iludo, não me deixo envolver. É perigoso demais. É preciso que as feridas cicatrizem. Para isso é necessário estar no escuro, em silêncio, janelas fechadas, portas trancadas, corpo acolhido no pijama rosa, de pantufa. Só. Sozinha.
Os bons momentos que passamos juntos foram inesquecíveis. Corpos colados um no outro. Suor. Cheiro. Beijos. Foi muito bom, mas perigoso demais. Não posso correr riscos, minha fobia social tem se agravado, meu stress emocional também.
Você foi cruel meu bem, muito cruel. Cutucou ferida com faca amolada. Isso não se faz.
Adios. Seja feliz (e sei que vai ser), porque não tem a mínima noção do que fez comigo.
Apenas me deixe assim como eu já estava, só e bem. Bem só.


PAM