domingo, 10 de abril de 2011

MÃE


(em memória de mamãe)

Preciso ir ao cemitério visitar sua avó... Disse, pensativa enquanto lustrava o chão da sala. Mexia os braços em movimentos vigorosos de vai e vem. É uma vergonha... a gente aqui ao lado do cemitério e não ir até lá visitar a vovó...
Continuou lustrando o chão. Tomou banho, passou batom, colocou o salto (sempre usava salto). era quarta feira. Toda quarta tinha horário marcado na manicure.
Vou fazer as unhas. Já volto.
Voltou.
Nossa! Coisa estranha! Acredita que a manicure passava o esmalte na minha unha e o esmalte escorria pros lados feito água? Eu heim... Tentou, tentou, aí o esmalte pegou. ficou bonito?
Vaidosa. Não lavava roupas. Papai pagava uma lavadeira. Não queria estragar as unhas.
Todo final de tarde tinha crises de asma. Tinha sempre na bolsa a bombinha. Colocava na boca, tragava duas vezes seguidas e a crise passava.
Naquela tarde não passou.
Foi enterrada de unhas feitas, no mesmo cemitério que a vovó.

Pam Orbacam.

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