quinta-feira, 12 de abril de 2012

Sexo, ópio e certidões de óbito



É.. O cara chegou aqui na minha frente, óculos escuros da barraquinha ching ling, suor evidente na testa que escorria pelos cantos do nariz até cair entre os lábios. Lambia. Senti nojo. Mochila nas costas. Sentou e me disse que era um colecionador de certidões de óbito. Perguntou se eu não tinha alguma pra doar pra ele. Jurou que tomaria o devido cuidado, enquadraria e penduraria na parede de sua casa, junto as demais. Disse que não. O vitiligo me chamava a atenção e eu não tinha como evitar. Abriu a mochila padrão do Governo do Estado e de lá tirou um livro. Delta de Vênus de Anaïs Nin. Se aproximou e me ofereceu o livro. Disse "é para o acervo da biblioteca, quero doar, mas antes quero que você leia os contos Mathilde e Marianne, são meus prediletos. LEIA". Na capa do livro a foto de uma bela mulher, cabelos negros, pele alva, espartilho e meia 7/8. Sem salto, sentada em uma poltrona antiga prendia a cinta-liga na meia. Ao lado abajur antigo e cinzeiro sobre a pequena mesa. Tá bom, eu leio, obrigada. Sexo e ópio. A personagem passava batom nos lábios vaginais com mais cuidado do que na própria boca. Sim, lábios vaginais, não vou falar buceta, nem boceta. Lábios vaginais. Não consegui imaginar uma buceta nela, apenas lábios vaginais vermelhos e bem delineados pelo batom da mesma cor que, toda noite passava cuidadosamente neles. Vestia apenas a cinta liga e as meias, sem calcinha, lábios vaginais vermelhos expostos, mas cobertos pela saia que, com apenas um movimento estrategicamente planejado escancarava a vagina vermelha de batom pelo salão, enlouquecendo os homens. Eles já sabiam. Sexo e ópio. Lábios vaginais vermelhos de batom. Certidões de óbito.

Paula Miasato

Um comentário:

Caio F. disse...

Gosto...Progressivo como uma onda.