sexta-feira, 29 de abril de 2011

INVERNO




Não. Eu não quero olhar para as rolhas das garrafas de vinho secas. Meu sexo ainda está úmido, e ainda sinto o gosto das amendoas saboreadas com a última garrafa.
Olho no espelho e não me vejo. Vontade de mergulhar de cabeça, mas a batida é certeira e não vai me levar desta pra outra. Os cortes vão sangrar, sangrar até que eu seque. Não quero sentir dor.
A dor dói. É redundante, eu sei, mas como diz Bonassi em "Centro Nervoso", "Onde a dor dói?".
Hoje a dor dói na porra da reunião chata que nunca termina e que te impede de me telefonar. Dói na merda da chuva que te prendeu no transito, nos infindáveis compromissos de trabalho que nunca tem dia nem hora certa pra terminar, dói no silencio que tanto gosto, mas que hoje, só hoje, ou pelo menos hoje, só por um tempo mínimo eu não queria perto de mim.
Hoje a dor dói no peito afísico, na fenda aveludada, úmida e vazia.
Onde foi que te perdi?


Pam Orbacam

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