segunda-feira, 2 de maio de 2011

O melhor para se ouvir é o silêncio

“A comunicação com os seres humanos nos atrai,
para que meditemos sobre nós mesmos”

Embora tenha lido esse axioma de Franz Kafka em “A Muralha da China”, há dez anos nunca, até agora, havia entendido tão bem a profundidade e a abrangência do seu significado.
Como educador convivo com tribos bastante heterogêneas. Caldeirões de diferenças criativas que dão sentido a essa pérola kafkaniana em meu dia-a-dia. Ao comparecer ao I Congresso dos Arrivistas esperava encontrar esse universo de diferenças enriquecido por jovens e criativos artistas, mas, para minha surpresa, o que encontrei foi a antítese de um caldo criativo.
O que vi, foi um grupo bastante homogêneo em idéias, desinteresses, preconceitos com quem ou com o que era desconhecido. Homogêneo até em querer ser diferente, na aparência explícita de “artistas”. Parecia que quase ninguém estava ali para discutir, filosofar, discordar, encontrar afinidades ou reforçar diferenças, divertir-se. Parecia que quase todos, buscavam apenas afirmar suas idéias, confundindo polêmicas superficiais com troca de idéias. Não esperava qualquer tipo de aprofundamento sobre qualquer tema, muito pelo contrário, mas um mínimo de bom humor, fruto espontâneo da discussão acalorada e sincera entre diferentes. Tristemente homogêneo até na falta de ideais e no gosto de ranço, no gosto de coisa velha e passada, embalada com papel moderninho, bastante comum no discurso acadêmico, berço provável de todos nós “intelectuais engajados” então presentes.
Encontrar pessoas com a disponibilidade de falar apenas de si mesmo e de suas próprias e anteriores verdades num eterno vernissage, enche meu saco, mas não me desanima. Por incrível que pareça, ainda me atrai. Atrai para que medite sobre mim mesmo e sobre a sociedade em que vivemos. Ainda pensando em Kafka: ”O caminho da verdade estende-se ao longo de uma corda que não está esticada a uma grande altura, mas apenas acima do solo. Destina-se mais a fazer as pessoas tropeçarem do que andarem por cima dela”.
Sinto-me, por vezes, roubado em meu tempo, mas não em minha capacidade de ver as coisas com ineditismo e curiosidade. Na época da internet é curioso encontrar pessoas “antenadas” mas, desconectadas dos problemas da sociedade. ”Donas de uma verdade” de botequim, verdades de revistas semanais da moda ou dos sites da hora.
Na época da internet, é a literatura que me lembra que quando não se tem o que dizer, o melhor para se ouvir é o silêncio ou seria, quando não se tem para quem dizer, o melhor para se ouvir ainda é o silêncio? Refletindo assim, da próxima vez, mudo.

Augusto Citrangulo
São Paulo, 12 de maio de 2.003.

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