segunda-feira, 2 de maio de 2011

Passeio no Parque

Acho que já escutei alguém dizer que os humanos são incapazes de ouvir os ratos. Talvez tenha sido aquela professora... Como era mesmo o nome dela? Sei lá... Como assim? incapazes de ouvir os ratos... Só um puta mauricinho não ouviria isso... Quando mesmo tive aula com ela?... Não tenho a menor idéia... Que apenas os cachorros conseguem ouvir, blábláblábláblábláblábláblá... Só pode ter sido na primeira ou na segunda série, era tanto blábláblá... Porra, que merda... Eu parei foi na terceira ou na segunda? Bom, tanto faz... O que será que ela quis dizer?... Será que isso não é rato?... Será que eu é que estou virando cachorro?... É véio, só se for daquele bem bagaceiro, puro vira-lata mesmo. Mas, que eu escuto esses filhos da puta, isso eu escuto... A noite inteira, roendo os pés da cama. Difícil é chamar isso de pé ou, pior ainda, isso de cama. E esse calor então... Tá foda, negão! O cheiro que sobe do córrego é do caralho. Esgoto puro. Mistura de merda, mijo, rato morto, corpo podre...Tá ligado? A imagem dos ratos, comendo tudo o que esta por perto, sacia minha fome. O fedor da água inunda minha garganta e sacia minha sede. Já chega! Desisto de tentar dormir... Vou dar um rolê. Ainda bem, que ainda ontem, ganhei essa magrela daquele playboy... Vacilão da porra! Quando saí, os manos já estavam todos montados nos camelos, só zoando... Eles sim é que são espertos... Nem mais casas têm para dormir... Ficam assim... À toa... Vivendo a vida... A toda. Dei uma calibrada com a rapaziada e saímos gritando... Para acordar esse povinho de bosta que quer descansar durante a noite para acordar no dia seguinte, bem cedinho e ir trampar... Produzir mais riqueza... Para os mesmos... Aumentar as diferenças... As distâncias... No fundo, acho que tenho pena deles... Dessa vidazinha medíocre que eles levam. Tomar um pipoco pode até ser legal para um cara desses... Pelo menos, não vai ter que levantar mais tão cedo, por tão pouco. Acho que é isso mesmo, sou meio... um justiceiro às avessas... Uns matam bandido... Outros matam burguês... Tem que ser simples assim... Se não, complica. Vamos se divertir, e tirar uma com aqueles burguesinhos cagões, andando lá no parque. Mal entramos e já vem um bundão, dar lição de moral, éproibidoandardebicicleta, nãosabelernãomoleque?, querquechameapolícia?... Vamos lá cuzão, vou junto, adoro polícia. Babaca, ainda me olha nos olhos. Só estou aqui para me divertir. Arrumar uma treta é puro lucro para mim, que não espero nada deste dia. Você não sabe de nada. Não tenho nada a perder, só fedor e miséria. Você não vacilão, hoje deu sorte, só não perdeu porque, ontem à noite, queria dormir e troquei meu ferro por uma pedra. Comemora bonitão, hoje é o primeiro dia do resto da sua vida. Aproveite enquanto pode. Quem sabe algum dia, depois do silêncio de uma longa noite de sono, repleta de lindos sonhos, numa cama bem gostosa, talvez eu te reencontre, bem cedinho, tranquilamente, passeando no parque. Na real, nada importa. Fui...

Augusto Citrangulo
São Paulo, 25 de fevereiro de 2010

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