quinta-feira, 16 de junho de 2011

F5



Nos últimos tempos tenho lido mais do que o comum, e por consequência do pouco tempo que me sobra do cotidiano considerado normal minha prosa e poesia tem se esvaído como fumaça de cigarro, lentamente, aos poucos. Sai numa baforada densa e logo sobe aos céus diluindo-se no ar poluído de São Paulo e quando vejo lá se foi o gancho, a idéia, a porra da inspiração (se é que ela existe mesmo).
Estou relendo livros que há tempos li, aliás, livros que por diversas vezes li, vários ao mesmo tempo, intercalando entre alguns que recebi de presente (isso é raro), alternando poesia e prosa e selecionando melhor os blogs que leio, o que me faz visitar com frequência e quando digo frequência quero dizer diariamente alguns poucos que os autores atualizam diariamente. Isso tem se tornado um vício que não considero ruim e me fez pensar na porra da tecnologia que tanto é rotulada por distanciar as pessoas do mundo "real". 
Sinto um estranhamento e certo conflito a respeito desse discurso. Não sei se pela minha natureza solitária ou por ultimamente incorporar com mais intensidade a idéia que sempre tive das relações humanas (coisa difícil, pelo menos para mim). O contato não virtual com "gente"com o passar do tempo tem se tornado cada vez mais difícil para mim. É algo como "sinto que vou me decepcionar a qualquer instante"o que 90% das vezes acontece e faz com que eu retorne ao mundo virtual prático: desligo quando percebo que isso vai acontecer e até por esse mesmo motivo a seleção criteriosa até nesse mundinho tão vasto e criticado.
Aí fico analisando a importância de quem mantém um espaço virtual atualizá-lo frequentemente (não me incluo nessa trupe, embora esteja considerando seriamente a possibilidade disso). 
Minha expectativa ao visitar um "amigo"virtual compara-se a uma visita "normal não virtual". É definitivamente foda chegar na casa de alguém e dar de cara com a cara do visitado amassada e receber um "oi, tudo bem?" exatamente igual a visita anterior. Sinto o mesmo quando visito espaços virtuais e vejo sempre o post que já havia lido na última visita. 
Sei, sou chata. Sei, sou perfeccionista. Sei, espero demais de tudo e de todos. Sei, sei, sei... Ah! Sou assim... CHATA! Sei, meu discurso é contraditório, porque não posto diariamente. SEI!
Foi necessidade de "falar"algo sobre o qual tenho pensado e analisado ultimamente cá com meus botões, apenas uma pequena partícula da vida tosca que vivemos (pode se incluir nessa), porque a vida é cheia de ações repetitivas, indesejadas, cotidianas, tal qual pegar ônibus todos os dias para trabalhar sempre no mesmo horário, almoçar sempre no mesmo horário (tento fugir disso, aliás, nem almoço as vezes, o que não dá pra fazer com o horário de trabalho), ir ao mercado com o olhar focado direto nas mesmas prateleiras porque a gente sempre compra as mesmas coisas e coloca sempre no mesmo lugar do armário quando chega em casa, essas coisas toscas da vida que faz o tempo passar tão rápido trazendo junto com os ponteiros uma sensação de "daonde apareceram essas rugas?"
Houve um tempo em que eu passeava no mercado e curtia as mercadorias como criança em loja de brinquedos. Hoje não mais. O tempo é curto e passa rápido. Houve um tempo em que eu sentava no banco do ônibus e percorria o mesmo caminho diariamente vendo coisas diferentes sem me conformar com as pessoas que dormiam nos bancos e perdiam de vista o mundo lá fora (hoje as entendo). Hoje não mais. Houve um tempo em que eu não me importava com essas coisas. Hoje não mais. 
Devo estar ficando velha ou ranzinza, mas prefiro acreditar que estou mais seletiva em tudo que faço me aproximo, vejo e toco.
Não há tempo a perder porque o tempo passa muito rápido, inclusive agora eu já deveria estar tomando banho para ir ao trabalho encontrar com minha abelha, companhia de sala fria e vazia de gente e cheia de livros, mas estou aqui escrevendo, fugindo do compasso.
Devo ler mais. Reler mais. Meu olhar para as coisas está ficando comum, o que nunca foi comum na minha vida. Acho que estou no caminho certo.
Devia continuar o post, tem muita coisa aqui na minha cabeça remexendo meus miolos, mas o tempo (e a bateria do note) está acabando.
Ontem eu ouvi numa aula de literatura onde trabalho algo sobre essa coisa de "tem que fazer, tem que ir lá, tem que meter a cara"e me vi claramente nesse discurso, há bons anos atrás. Percebi o quanto meu fôlego hoje está reduzido, o quanto o que eu era mudei e lembrei de uma conversa que tive no mesmo dia na biblioteca onde trabalho sobre a possibilidade de mudança nas pessoas. Sempre achei que as pessoas não mudam e defendi essa tese piamente nessa conversa, mas percebi logo depois, a noite no curso, que defendi uma tese errada, a minha vida inteira.
E a grande prova disso, sou eu.

Pam

2 comentários:

Edson Bueno de Camargo disse...

Cara quantas vezes me pego fazendo esta reflexão. Muito doido isto. Mas acredito que rever nossas teses de vez em quando é normal. Já mudei tanto e de forma tão radical, que as vezes não me reconheço em fotos antigas, é só uma cara que conheci e faz uma cara que não falo mais com ele.

Paula Miasato disse...

Converso intensamente comigo, sem interrupção. Talvez seja esse o problema.