quarta-feira, 21 de março de 2012

EXÍLIO




Eu sou uma grande mulher. Eu tenho 41 anos, sou escritora, pedagoga, química, funcionária pública há 20 anos, divorciada por três vezes, tenho uma filha de 17 anos (ela diria quase 18...) a qual criei e eduquei sozinha sem a ajuda e presença do pai.
Eu sou uma grande mulher. Acredito na morte e na vida (mais na morte que na vida), acredito que posso, acredito que sou, faço, desfaço, crio e destruo de acordo com a minha vontade e isso me faz bem. 
Sou uma sobrevivente. Bebo, fumo, fui dependente química, sobrevivi a uma overdose. Sou uma sobrevivente.
Eu sou uma sobrevivente a amores fulgazes. Afoguei depressão em sexo. Afoguei minha vida toda até o fundo, mas ela teimou em emergir. 
Passei fome as vezes pra não deixar minha filha passar por isso. Me enterrei em dívidas, mas sou teimosa e hoje caminho sobre a terra que me escondeu.
Sou uma camaleoa. Fui morena, hoje sou loira, amanhã estarei morena novamente, quem sabe futuramente ruiva. Sou leoa (assim me chamam). Camaleoa. Cama/leoa. Uma leoa na cama, uma felina de fogo, terceiro fogo (o mais fudido deles). Eu sou fudida.
Sou gente que odeia gente. Preciso de pouco. Pouco é preciso, me é precioso. Gosto da minha casa, do  meu casulo, da minha toca, do meu esconderijo. É onde me sinto protegida da vida e das pessoas que vivem nela.
Morro e ressuscito a cada gozo. Não sei pra onde vou, devo ir pra onde deveria estar, mas sempre volto. Nossa! Isso é muito bom...
É... Eu sou uma grande mulher. Eu assusto, intimido, provoco e encanto. Gosto disso.
Sou também prática. Elimino da minha pseudo vida coisas, momentos e pessoas que não me fazem bem com uma facilidade imensa. Isso me alivia e me causa a sensação de novo o que é essencialmente necessário pra mim.
Sou também observadora. Olho muito tudo apesar do elemento distração ser parte integrante do meu eu físico e psíquico, um olhar pra dentro e pra fora de mim e dos outros, do mundo e da "vida". Olho, escuto, penso (não deveria) e espero o momento do bote. Sim, ele tem um momento certo que deve ser respeitado. Aprendi isso com cobras, que são mestres nisso. 
Os animais são inteligentes e sensuais.
É... É... Eu sou uma grande  mulher. Uma mulher que só aprende com a dor, que só aprende  com o amor, duas coisas distintas e inseparáveis.
É... Eu sou uma grande mulher. 
Sou.
...
?
De que me adianta ser uma grande mulher? Se isso significa uma virtude que incomoda, provoca e assusta?
Talvez isso não seja uma virtude. Seja um defeito.
De que me adianta ser uma grande mulher se provoco sensação de paz onde não deveria? De que me adianta ser uma grande mulher que não dá as costas pra nada, estufa o peito ergue a cabeça e apesar de ver, ouvir, sentir e perceber mete a testa na parede invisível da realidade e a empurra com as mãos acreditando piamente que ela vai sair do lugar?
De que adianta?
De que adianta não dar as costas pra tudo? Eu sempre dou as costas pra mim...
Eu sempre dou as costas pra mim...
Minha pseudo vida é um recomeço constante. E eu sou a única e grande culpada disso tudo.

Paula Miasato

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