sexta-feira, 25 de maio de 2012

BRECHÓ DE CARNE





Não era uma puta o que ele queria, mas era uma puta o que lhe restava depois da madrugada de tentativas frustradas. As cinco na manhã depois da mesa forrada de garrafas vazias além da cadeira também vazia a sua frente, a mulatinha parou e perguntou: moço me dá um cigarro?
Devia ter uns 14 anos. Cabelo mafuá curtinho, mini saia encardida curtinha (padrão da moça), chinelos de borracha gasta protegiam um par de pés rachados e feios. Sustentava lábios carnudos e ressequidos, sem batom. Nessa hora já devia estar cheia de porra seca pelo corpo. Era puta. Uma putinha nova encardida viciada de merda e que não usava batom. Fez programa a noite inteira e não tinha grana pra comprar cigarros. Vagabunda.
Enfiou o cigarro na boca dela. Tinha dentes grandes e amarelados. Acendeu. Deu o primeiro trago estendendo um olhar de convite. Mordeu o lábio inferior. A língua branca umedeceu os lábios. Um cheiro que coisa usada, de brechó. Brechó de carne.
Pediu pra pendurar a conta e a puxou pelo braço. Ela veio sem questionar. Na outra mão o cigarro pela metade ainda aceso. Andava estralando os chinelos de borracha. Aquilo o irritava, dava ódio. Ficou feliz. Precisava disso pra fodê-la.
Entre as ruas Caieiras e Assis havia um beco escuro bem apropriado. Não levaria aquela putinha fedida pro quarto dele, mesmo que ele cheirasse a bolor.
Grudou no cabelo mafuá dela pelas costas e colou aquela cara esporrada no muro enquanto erguia a sainha encardida. Com a boca meio espremida pelo muro ela disse: Dez reais moço.
É pra fumar?
Não. É pra cheirar.
A saia erguida liberou o cheiro de merda. A bunda dura, as coxas grossas. A pele grossa. Empinou o rabo.
Fode moço. Fode meu cu.
O pescoço exposto pelo cabelo mafuá curtinho e os calcanhares brancos e rachados. O cheiro de merda. As baratas passeando pelo beco na noite de verão. Resto de comida azeda pelo chão. Alumínio de marmitex. Cachimbos.
Enfiou... Enfiou a mão no bolso, sacou uma nota de vinte reais. Encaixou entre as bandas da “bunda PF”, colou a boca alcoólica no ouvido brilhante de cera e disse: Vai cheirar seu lixo, e me faz um favor, morre.
Largou a mulatinha sem nome ali mesmo no beco e voltou pro boteco.
Não olhou pra trás.
Ah! A loira gelada e fresca... Ela não custava dez reais, nem cheirava a merda.

Paula Miasato Rossi

Nenhum comentário: