Não era uma puta o que ele queria, mas era uma puta o que
lhe restava depois da madrugada de tentativas frustradas. As cinco na manhã
depois da mesa forrada de garrafas vazias além da cadeira também vazia a sua
frente, a mulatinha parou e perguntou: moço me dá um cigarro?
Devia ter uns 14 anos. Cabelo mafuá curtinho, mini saia
encardida curtinha (padrão da moça), chinelos de borracha gasta protegiam um
par de pés rachados e feios. Sustentava lábios carnudos e ressequidos, sem
batom. Nessa hora já devia estar cheia de porra seca pelo corpo. Era puta. Uma
putinha nova encardida viciada de merda e que não usava batom. Fez programa a
noite inteira e não tinha grana pra comprar cigarros. Vagabunda.
Enfiou o cigarro na boca dela. Tinha dentes grandes e
amarelados. Acendeu. Deu o primeiro trago estendendo um olhar de convite.
Mordeu o lábio inferior. A língua branca umedeceu os lábios. Um cheiro que
coisa usada, de brechó. Brechó de carne.
Pediu pra pendurar a conta e a puxou pelo braço. Ela veio
sem questionar. Na outra mão o cigarro pela metade ainda aceso. Andava
estralando os chinelos de borracha. Aquilo o irritava, dava ódio. Ficou feliz.
Precisava disso pra fodê-la.
Entre as ruas Caieiras e Assis havia um beco escuro bem
apropriado. Não levaria aquela putinha fedida pro quarto dele, mesmo que ele
cheirasse a bolor.
Grudou no cabelo mafuá dela pelas costas e colou aquela cara
esporrada no muro enquanto erguia a sainha encardida. Com a boca meio espremida
pelo muro ela disse: Dez reais moço.
É pra fumar?
Não. É pra cheirar.
A saia erguida liberou o cheiro de merda. A bunda dura, as
coxas grossas. A pele grossa. Empinou o rabo.
Fode moço. Fode meu cu.
O pescoço exposto pelo cabelo mafuá curtinho e os
calcanhares brancos e rachados. O cheiro de merda. As baratas passeando pelo
beco na noite de verão. Resto de comida azeda pelo chão. Alumínio de marmitex.
Cachimbos.
Enfiou... Enfiou a mão no bolso, sacou uma nota de vinte
reais. Encaixou entre as bandas da “bunda PF”, colou a boca alcoólica no ouvido
brilhante de cera e disse: Vai cheirar seu lixo, e me faz um favor, morre.
Largou a mulatinha sem nome ali mesmo no beco e voltou pro
boteco.
Não olhou pra trás.
Ah! A loira gelada e fresca... Ela não custava dez reais,
nem cheirava a merda.
Paula Miasato Rossi
Nenhum comentário:
Postar um comentário