quarta-feira, 1 de junho de 2011

ORAÇÃO DAS DONAS DO INFERNO




Tem gente que me crucifica por escrever geralmente sobre a dor. O que me faz escrever sobre a dor, geralmente é a própria dor (óbvio), e para que eu sinta dor é preciso estar sozinha. Quando estou sozinha a dor aflora de maneira intensa, e é a mesma dor que existe dentro de mim quando não estou sozinha. Minha dor é tímida, e não gosta de ser vista, fica incubada até que se sinta a vontade para se fazer presente em forma de transpiração. Eu escrevo sobre a dor, sobre a minha dor que é minha sombra inseparável e a única coisa que me faz sentir viva. Que os a deuses abençoem, pois é por ela, dela, com ela que minha produção literária se faz presente. Se isso incomoda, definitivamente não é um problema meu. Se você não quer que a sua aflore, tal qual a minha, porque sei que meus textos e poemas são um espelho, não olhe para ele. Você pode se assustar ao ver refletido nele a sua própria dor. Abaixo deixo um texto de Clarah, de um de seus livros que considero como o livro da dor e a bíblia dos escritores saturninos. Quem não o leu - e não pensem que li depois do programa "Troca de família", li muitos anos antes, antes mesmo dela tornar-se uma escritora comercial (desculpe Clarah, mas é MINHA análise, que pode não significar porra nenhuma pra você). Não sei quantas vezes li esse livro, mas hoje ele pra mim é como um livro de preces. Esta é uma prece.

Pam Orbacam


Senhor, livrai-me da felicidade.
A felicidade constante é estúpida. Serve para aqueles que desejam uma vidinha normal, uma caminha morna, um beijinho seco de boa noite. Para quem quer a rotina que mata qualquer paixão, qualquer chama, qualquer faísca que possa incendiar uma vida.
A felicidade emburrece. Entorpece. Entorpece. Quero sentir tudo. Deixa doer.
A felicidade é uma cama morna. Preciso de calor. Preciso de brilho nos meus olhos, suor nas minhas costas, vapor nas minhas roupas, preciso do sangue borbulhando em minhas veias. O filho da puta não pára.
Ajudai-me a manter meu caminho de pedras e espinhos, de montanhas e desfiladeiros.
A sangrar e chorar com a dignidade de fazer o que preciso fazer.
A explodir em mil fogos e chover, brilhando, uma vez a cada cinquenta facadas.
A sorrir sem limpar o sangue seco, porque vale a pena. Tudo vale, porque não saio da minha trilha. Não sei e não quero aprender a andar fora dela. Fora dela não há sentido, não há vida, não há nada além do vazio que me engole quando menos espero,, como uma nuvem, uma sombra maldita que me atormenta desde sempre.
Dai-me força e a coragem de ir até o fim com a cabeça erguida e os olhos fechados.
Estou tonta, rouca, sem ar, cega, perdida. Estou perdida.
Deus deve salvar.
Não se atira no abismo. Se atira em mim.

(Clarah Averbuck - Das coisas esquecidas atrás da estante)

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